29 de dezembro de 2011

Feliz Ano Velho

Não é mera frase de efeito. Como você bem sabe, este é o nome do romance livro de estreia (autobiográfico) de Marcelo Rubens Paiva, que acabo de ler. Uma prosa deliciosa, num relato leve, bem humorado, sem qualquer frescura estilística. Sem a mínima dose de autopiedade. Altamente recomendável para todos aqueles que têm a tendência de encarnar o papel de vítima.
Livraço. E pensar que o cara só tinha 20 anos ao escrever aquilo.
Um belo modo de terminar o ano.
Até mais.

22 de dezembro de 2011

Jingles (Bells)

Estrela brasileira do céu azul, iluminando de norte a sul, mensagem de amor e paz, nasceu Jesus, chegou Natal. Papai Noel voando a jato pelo céu trazendo um Natal de felicidade, e um Ano Novo cheio de prosperidade.
A fiel leitora, balzaquiana ou além, certamente lembrará disso. E também da bela escala que desce e sobe, começando em “Papai Noel”, terminando em “céu”.
A empresa aérea foi para o buraco, mas o jingle ficou. Aliás, como já fomos bons em jingles, não?
E esta outra, que martelou nossos tímpanos.
Dezembro vem o Natal, os presentes mais bonitos, as lembranças mais humanas. Até os entes queridos, todos vão comprar nas ............................................. [se não tem cachê, omito o nome]. Em todos os lares, a paz seja total, e mais os nossos votos de Feliz Natal.
...
Taí, é o que dá, ter uma memória musical que registra absolutamente tudo. Da linha melódica de um moteto de Bach ao novo hit do Bonde do Tigrão.

19 de dezembro de 2011

Fast-forward

“It’s as if we become addicted to the satisfaction of knowing. But that knowing doesn’t last for long. We may know about the why of this, but what about the why of that? Fast-forward and we’re left with the why of the world”.
Trecho do livro que estou traduzindo. Ganha um Christmas pudding caseiro quem conseguir traduzir o verbo sublinhado acima usando menos de quatro ou cinco palavras.
Não paro de me surpreender com a concisão da língua inglesa. Saboroso, isso.
E ainda tem quem acredite que as máquinas poderão fazer nosso trabalho. Tsc, tsc...

14 de dezembro de 2011

Led Zeppelin

Descobri o grupo aos 14 anos, por intermédio de um amigo que era vidrado nos caras. Ele chegava a deixar o cabelo parecido com o de Robert Plant. Botava os LPs pra tocar, e ficava dizendo: “Ouve só isso, cara!”. E eu... “É mesmo, muito bom”. Sem grande convicção.
Enquanto esse meu amigo mergulhava de cabeça no rock’n’roll, o caçula dos Fragoso recebia doses cavalares de MPB em casa. O Led, portanto, nunca fez muito minha cabeça. Diferentemente do Pink Floyd, por exemplo. Banda que sempre me impressionou muito.
Corte. Três décadas mais tarde. Na caixa de e-mails, pipoca o convite do editor: tradução de um livro sobre o Led Zeppelin. Topa?
Eita, como não?!
Prazo apertado, dividimos o bolo da tradução. O resultado, aí está, recém-saído da fornalha:
Whole Lotta Led Zeppelin – A história ilustrada da banda mais pesada de todos os tempos, de Jon Bream (org.). Tradução de Gustavo Mesquita, Anna Paola Monteiro e deste escriba. Editora Agir.

Atualização: estive hoje na livraria em Sampa e folheei o livro. Putisgrila!!! Que maravilha de edição. De encher os olhos. Deu gana de começar a ouvir os caras.

7 de dezembro de 2011

Sócrates

– Desculpe perguntar, mas você não é...
Ao ouvir as primeiras palavras, eu já completo:
 ... parente do Sócrates?
Morando em SP, eu costumava ser abordado nas ruas com esta pergunta, em média, uma vez por semana. À medida que os anos iam passando, a semelhança aumentava, e o número de abordagens idem. Claro que eu não me chateava. Muito pelo contrário. Taí mais uma excelente razão pr’eu manter a barba. Notarem semelhança física entre o que vejo no espelho e um cara da estatura do Magrão... putz, quer coisa mais bacana que isso?
Palmeirense naquela época (hoje, meu apego a times é nulo; minha torcida é pelo futebol bonito), eu acompanhava Sócrates e o Corinthians meio à distância, mais atento aos seus gols e principais lances. Curtia seu jeito cool de comemorar os tentos (curiosamente tido, por alguns, como atitude de jogador “mascarado”).
Embora, politicamente falando, eu ainda engatinhasse, percebi a enorme importância do movimento que ele, Casagrande e outros lideraram no Corinthians, a “Democracia Corintiana”, para o contexto político da época. Por exemplo, Sócrates se opunha abertamente às famosas “concentrações” dos jogadores, na véspera das partidas, o que equivaleria, na visão dele, a “tratar os atletas como incapazes, como criancinhas sem responsabilidade”.
Tive novo encanto ao descobrir os textos do Doutor, na revista CartaCapital. Dono de senso crítico aguçado, sua coluna semanal trazia um estilo elegante e um texto denso, mas sem pompas. Volta e meia, ilustrava opiniões com seu amplo repertório de leituras, sempre contextualizado e a serviço da argumentação. Nenhuma demonstração de falsa erudição. Durante anos, escreveu crônicas que refletiam a mesma categoria de suas passadas em campo e de seus toques de calcanhar.
Torço agora para que uma biografia do homem seja publicada em breve (só nos poupem de caça-níqueis editados às pressas, por favor!), que algum jornalista (além de Juca Kfouri, algum forte candidato?) lhe preste uma homenagem à altura, de preferência numa bela e luxuosa edição. Sem a pretensão de santificá-lo (atitude de praxe com os que morrem, neste país), apenas mostrando sua dimensão humana. Um livro que narre a trajetória de um jogador cuja postura, dentro e fora de campo, despertou a admiração de tanta gente, corintianos ou não (Sócrates Brasileiro Sampaio etc: o próprio nome transcendia a divisão entre torcidas). De um cara que, apesar – ou por causa – do status de ídolo, sempre esteve atento para não permitir que o próprio ego o sufocasse. Afinal, oportunidades para criar uma percepção de si mesmo como acima dos mortais, ele teve de sobra.
Em tempo: o Cartão Verde de ontem, na TV Cultura, foi possivelmente a homenagem mais linda que Sócrates poderia ter recebido. E sem a mínima pieguice. Se o programa estiver no YouTube, não deixe de ver.
Valeu, Magrão!

5 de dezembro de 2011

Drops

Corinthians campeão. Assisti aos 90 minutos do jogo final contra o Palmeiras sem som. Só as imagens e, no fundo, os urros do vizinho. Experimente quando puder: sem a histeria toda, tudo fica infinitamente melhor.
Universo feminino (1). Restaurante em S. Lourenço. Cena que eu não via há pelo menos vinte anos. Duas amigas almoçam juntas. Súbito, uma delas faz um comentário que faz a outra dar uma deliciosa gargalhada, daquelas de jogar a cabeça pra trás. Nota que merece registro: espiei na mesa, e não havia cerveja, vinho, nenhum estimulante alcóolico. Um riso espontâneo.
Universo feminino (2). Num restaurante de Sampa, almoço de colegas da firma, dois homens e uma mulher. Reproduzo uma fala da mulher, sem intromissões de revisor: “Prefiro trabalhar com quarenta pião de obra do que ter que trabalhar com mais duas mulher na sala”.

22 de novembro de 2011

Jogos de tabuleiro

Imagine um jogo que estimula a linguagem, sem a preocupação de ditar o que é certo ou errado, no uso da língua. Um jogo premiado em vários países, com regras muito simples (explicitadas em oito idiomas), e com um visual de encher os olhos. E que, além disso, lhe permite conhecer um pouco melhor os adversários – tendo grande valia, portanto, quando utilizado pelas empresas (na seleção de candidatos, por exemplo) para a identificação de características pessoais. Pois bem, este jogo existe: Dixit.
As regras. O jogo contém 84 cartas, com imagens. Oníricas. E um tabuleiro, em que cada jogador avança nas casas, com seus coelhinhos, até o número 30, à medida que ganha os pontos. Seis cartas são distribuídas para cada um. Na primeira rodada, um jogador escolhe uma de suas cartas, sem mostrá-la aos demais, e diz algo que tenha relação com esta imagem: pode ser uma única palavra, uma frase, um verso de uma canção. Os outros jogadores escolhem, dentre suas próprias cartas, uma imagem que mais se aproxime da palavra/verso/frase dita pelo primeiro. Este recolhe todas as cartas (ideal jogar com 6 pessoas; 3 é o número mínimo), as embaralha, e recoloca na mesa. Agora, é o momento das apostas: qual terá sido a carta do primeiro jogador? Todos apostam com uma ficha numerada. Pontuará, avançando com o coelhinho, aquele que adivinhou, relacionando a frase à carta certa. Porém, também pontuam (com menos pontos) aqueles em cujas imagens os demais jogadores apostaram. Se todos descobriram a carta certa (a frase/palavra foi óbvia demais), ou se ninguém descobriu (foi enigmática demais), o primeiro jogador não pontua.
O grande barato, no Dixit, é a oportunidade de, por meio da brincadeira, descobrir facetas das pessoas com quem se joga. Traços de personalidade que vêm à tona: 1) a capacidade de abstração: já que nenhuma das imagens tem correspondência direta com a realidade, elas evocam diferentes ideias em cada um. Há os que tentam, numa frase, explicar exatamente o que estão vendo. Outros “viajam” completamente. Alguns são sutis, outros mais óbvios, quase didáticos. Outros, ainda, se equilibram num invejável meio-termo; 2) a afinidade de percepção entre determinados jogadores: numa das vezes em que jogamos, o índice de acerto, no caso de dois deles, coincidiu em cinco rodadas consecutivas; 3) a sutil interferência do ego. Quando alguém escolhe um nome/título que pertence ao seu universo cultural do qual, entretanto, os demais jogadores não compartilham. Por exemplo, um músico fora do “mainstream” ou um filme antigo; 4) concisão vs. incontinência verbal. Ou seja, a maneira como cada jogador se expressa: de modo lacônico, enxuto ou soltando o verbo.
O sucesso do jogo, de origem francesa, foi tamanho que as lojas oferecem um conjunto extra de cartas. Numa caixinha vendida separadamente, há 84 imagens adicionais.
Onde encontrar o Dixit? Em Pindorama, esqueça; por aqui, paramos no Banco Imobiliário e no War. Você o acha no site da Amazon, ou então nesta loja virtual.

21 de novembro de 2011

32'

Da série “Descobertas que abalaram o planeta”.
“Mulheres guardam segredo por apenas 32 minutos, aponta estudo". (Portal Terra).

18 de novembro de 2011

O dia em que Karl Marx pegou o busão

No ônibus em São Paulo. Distraído, bato o olho na frase do cartaz:
“No trânsito do capital, a preferência é da vida”.
Refeito do assombro inicial, passo a ruminar a mensagem. Num período de breves segundos, acompanho o inusitado percurso da sociologia, que deixa o confinamento da Torre de Marfim acadêmica e se mistura à prosaica rotina do trabalhador. Na volta para casa, cansado da labuta, o cidadão é presenteado, pela prefeitura da metrópole, com uma joia do pensamento sociológico. Pérolas aos povos!
Causa espanto e admiração a capacidade de síntese do autor: a denúncia do capitalismo, da voracidade dos especuladores, da lenta destruição das relações humanas. Poesia, sociologia e ciência política são condensadas numa frase que, destrinchada, renderia dissertação de mestrado.
Súbito, ergo os olhos, noto que o cartaz é uma edição do Jornal do Ônibus. Campanha educativa. Releio a frase, e aí me dou conta do pequeno tropeço na leitura, que me fez – para continuar com a imagem do trânsito – ignorar a “preferencial”:
“No trânsito da capital, a preferência é da vida”.
E assim Marx viveu seu momento de proletário. Um momento breve, já que aristocrata nenhum é de ferro.

16 de novembro de 2011

Pela volta de Escobar

Eis o post que venho tentando colocar no ar desde o início da tarde, e que minha conexão 3G – também conhecida como segura-na-mão-de-deus-e-vai – só agora permitiu.
***
Dia desses, ela confessou que sua atividade – sobretudo as falas em público – é um “ato de fé”. Encarar a plateia não é uma situação que lhe dá, digamos, espasmos de prazer.
Meses atrás, em Paraty, ela esteve sob os holofotes. Mas, num acesso dos “cinco minutos”, decidiu inovar no roteiro. Munida de um laptop e do powerpoint, trouxe Escobar de volta. Sim, o felino que arrebatou o público há mais de dois anos, no blog dela.
Súbito, Escobar e sua turma ganham vida novamente. A autora comenta um e outro aspecto sobre o nascimento da série, seu momento criativo etc, enquanto o público, olhos grudados no telão, vai ao delírio.
Parêntese: você só entenderá o sentido disso tudo quando vir as imagens, quando ler os textos que as acompanham.
A partir dali, a conversa poderia enveredar pelos clássicos da literatura ocidental, pela análise da influência de Justin Bieber na literatura infanto-juvenil ou por dicas de jardinagem. Pouco importava: o público já tinha sido fisgado.
Daqui a pouco, às 20h, no Sesc Belenzinho, ela (quem? Ora, a Mulher, claro) volta a encontrar seus leitores. Abandonados, meio jururus, mas esperançosos, os fãs clamam: Volta, Escobar!!

15 de novembro de 2011

Três anos

Há exatos três anos, a Mulher e eu, moradores de Sampa, conversávamos numa padoca da Vila Madalena. Sábadão de manhã.
– Que tal darmos uma olhadinha naquela região que conheço, São Lourenço, ver o que há de chácara por ali?
Beleza, pensei ao ouvir. Dali já pegamos estrada.
Entramos na primeira das três chácaras que nos seriam mostradas. Bastou pisarmos na varanda do lugar, o primeiríssimo, sentimos: é aqui mesmo. Fim da busca.
Crau. Agarramos a chance, ali mesmo. Tresloucados desse jeito. Planejamento Zero. Intuição Cem.
E aqui estamos, sem a mínima vontade de largar a vida na roça.
Tin-tim para nós.

18 de outubro de 2011

O silêncio das línguas cansadas

Desde minha estreia na blogosfera, há pouco mais de um ano (considerando o tempo da casa virtual antiga), passei por diversas fases. No início, o gás era total: um post por dia. Logo percebi que não teria fôlego, e desacelerei. Desde então, mantive a média de dois ou três post semanais. Uma e outra pausa, em momentos de crise.
Pois bem. O momento, agora, é bem particular: sensação de estar numa sala lotada de aeroporto, trocentas pessoas falando, um vozerio que se mistura a uma música ambiente indesejada, e de que nada mais faço além de acrescentar ruído à sala.
A dúvida, que nasceu há algum tempo, e que não para de saltitar no trapézio da mente é: continuo?
Quisera ter o fôlego de um Braulio Tavares, com invejável diversidade de assuntos e uma coluna diária (não folga nem nos domingos!), ou o talento de um Antonio Prata, para levar ao ar uma única e saborosa crônica semanal.
Mas claro que buscar espelhos ou ideais é tolice: o blog é meu, o texto é meu, e não faz sentido que ele seja mero decalque de alguém.
Cabe, sim, prestar atenção ao que venho sentindo, e que tenta responder à dúvida acima. Uma frase, que traduz muito bem esse sentimento, me ocorreu dia desses, ao cantarolar melodias do passado (recados mandados pelo universo? Sintonia fina com a música? Ambos, desconfio. Fato é que o cancioneiro nacional me assopra a trilha sonora perfeita, em inúmeros momentos). Trata-se de um verso de “Casa no Campo”, canção de Zé Rodrix: “Eu quero o silêncio das línguas cansadas”.
De hoje em diante, portanto, a atualização do blog acontecerá (quando e se acontecer) de modo completamente aleatório. Somente quando me der “os cinco minutos”. Assim, respeitando primeiramente a mim mesmo, poderei mostrar respeito com o leitor.

6 de outubro de 2011

Pausa

Nunca dei muita trela a esta história de precisar “recarregar as baterias”. Sempre me pareceu conversa fiada. Pois bem, por motivos que não cabem aqui, ela agora faz sentido.
Até breve, então.

30 de setembro de 2011

Dia do Tradutor

Em tempos bicudos como os nossos, é um bálsamo deparar com gente generosa.

“Para mim, traduzir um bom ou um mau redator dá a mesma satisfação. Tenho prazer em traduzir texto mal escrito. O desafio é maior. A luta é maior. O triunfo, mais saboroso”.

Danilo Nogueira, tradutor. Depoimento dele, em seu blog.

28 de setembro de 2011

Estreia...

... nova categoria no blog: n’importe quoi. Literalmente, a expressão francesa significa “qualquer coisa, não importando exatamente o quê”. Mas seu sentido mais comum se aproxima do whatever, em inglês. Em português, nonsense pode servir como sinônimo. Que ainda acho fraco: n’importe quoi sintetiza muito bem a bizarrice de uma situação.
Vamos lá, então. Caetano Veloso inaugura a seção, em grande estilo. Notícia do jornal de hoje:
Caetano tenta vetar 'Tropicália' como nome de condomínio

Caetano Veloso quer impedir o uso do termo "tropicália" para batizar um conjunto de prédios de alto padrão que está sendo erguido pela Odebrecht, em Salvador.
(...)
"Um empreendimento imobiliário rentabilíssimo [que] não está fazendo algo diferente de usar a força dessa difusão como publicidade para seu produto. Configura um uso parasitário de minha imagem pública. De resto, não gosto da febre de condomínios fechados no litoral ao norte de Salvador", disse.
A advogada Simone Kameneitz, que representa Caetano, disse já ter notificado a empresa para mudar o nome do empreendimento. Se o pedido não for atendido, o cantor vai processar a Odebrecht. A Odebrecht Representações, que disse não ter sido notificada, não pretende mudar o nome do condomínio porque o vocábulo "Tropicália" não pertence a Caetano.

27 de setembro de 2011

Vocapeople


Octeto vocal. Fazem música a capella, ou seja, sem instrumentos. Comentários como os que li, na mídia francesa, do estilo “Um talento colossal”, sempre me deixam com um pé atrás. Bem, fui conferir.
Arrebatador. Não encontro outra palavra para resumir o espetáculo. Saí do teatro em estado de graça.
Em 1h30, o grupo faz um medley de canções pop dos mais variados estilos, incluindo árias de óperas. Intercalam as canções com breves gags, interagindo com a plateia.
O que chama a atenção é que, sob o pretexto de serem “seres intergalácticos”, se comunicam com o público praticamente sem usar a língua (quando o fazem, isso se dá ora em francês, ora em inglês); dão prioridade ao gestual e, claro, à música.
Visito o site deles, e descubro, entre outras coisas, que o octeto (de origem israelense), é composto por 24 cantores, que se revezam, três de cada naipe (dois “naipes” fazem a percussão vocal). É o que lhes permite apresentar-se simultaneamente em Nova York e em Paris. Na capital francesa, a temporada atual dura 6 meses, de 4ª a domingo, e num teatro com capacidade para... 850 pessoas! (Só de pensar no espaço dedicado à música vocal entre nós... bem, melhor nem pensar).
Na página deles no Facebook, você encontra uma amostra do trabalho do grupo.
Vontade de voltar a Paris só para vê-los novamente. Quem sabe (delírio, quimera...) um empresário amalucado ainda traz o grupo a Pindorama.


26 de setembro de 2011

O rebelde

Neste livro, Osho faz uma longa e detalhada caracterização dos três tipos de pessoas dispostas a "mudar o mundo": o reformista, o revolucionário e o rebelde. O trecho abaixo é um retrato que traduz com enorme fidelidade o que tem sido a minha busca.
“As qualidades do rebelde são multidimensionais. Primeiro, o rebelde não acredita em nada a não ser na própria experiência. A verdade dele é sua única verdade: nenhum profeta, nenhum messias, nenhum salvador, nenhuma santa escritura, nenhuma tradição antiga pode lhe dar a verdade. (...)
Um rebelde respeita sua própria independência e também respeita a independência de todas as outras pessoas. Ele respeita a sua própria divindade e respeita a divindade de todo o universo. Todo o universo é seu templo – é por isso que ele abandonou os pequenos templos feitos pelo homem. Todo o universo são suas sagradas escrituras – é por isso que ele abandonou todas as sagradas escrituras escritas pelo homem. Mas não é por arrogância, é para empreender uma humilde busca. O rebelde é tão inocente quanto uma criança.
A segunda dimensão será não viver no passado, que não existe mais, e não viver no futuro, que não existe ainda, mas viver no presente com a máxima consciência e espírito alerta que se possa conseguir. Em outras palavras, viver consciente no momento. (...)
A terceira dimensão é que o rebelde não está interessado em dominar os outros. Ele não tem avidez pelo poder, porque essa é a coisa mais feia do mundo. (...) É essa avidez pelo poder que acaba levando aos conflitos, às competições, à inveja e finalmente às guerras. (...)
O rebelde penetra no seu mundo interior de olhos abertos, sem nenhuma ideia do que está procurando. Ele continua polindo sua inteligência. Continua tornando seu silêncio mais profundo, sua meditação mais profunda, para que o que quer que esteja oculto dentro dele venha à superfície; mas ele não tem ideias preconcebidas sobre o que está procurando.
Ele é basicamente um agnóstico. Essa palavra tem que ser lembrada, pois ela descreve uma das qualidades mais básicas. Existem crentes que acreditam em Deus, existem ateus que não acreditam em Deus e existem agnósticos que simplesmente dizem, ‘Não sabemos ainda. Vamos buscar, então vamos ver. Não podemos dizer nada antes de termos procurado em todos os recônditos do nosso ser’. O rebelde começa com ‘eu não sei’. É por isso que eu digo que ele é como uma criança pequena, inocente”.
Transformando crises em oportunidades, de Osho. Ed. Cultrix, tradução de Denise C. Rocha Delela.

21 de setembro de 2011

Em Liliput

Mãe internada, passo algumas horas no quarto do hospital, como acompanhante. Volta e meia tiram o paciente do sossego. Uma injeção aqui, um exame ali, e assim vai. Noto que, independentemente do sexo, há entre os enfermeiros um modo comum de tratamento dos idosos.
– Vamos lá? Ok, devagar, agora. Levanta a perninha.
– Me dá o bracinho. Isso, assim mesmo.
– Não deu certo. Vamos ter que pegar outra veinha. (apurei o ouvido: isso mesmo, não era veiazinha, ou véinha).
E dá-lhe agulhinha, camisolinha e xixizinho.
Me imaginei paciente com 85 anos de idade, soterrado por tantos -inhos.
Corta pr’um flashback. Em A bolsa amarela, de Lygia Bojunga, a protagonista Raquel (pré-adolescente, pelo que lembro), a certa altura, desabafa:
– Por que é que todo mundo fala comigo desse jeito, no diminutivo? Será que acham que não entendo, se falarem de maneira normal?
Sei não, mas desconfio que ainda exista uma porção de velhos (vamos lá, direto ao ponto, “pessoas da Terceira/ Melhor Idade” é de lascar) com o espírito de Raquel. Ou será que Liliput é aqui?

19 de setembro de 2011

Badalação

Matéria do Suplemento Literário do Estadão aborda a ansiedade em torno do resultado do Man Booker Prize, “o mais prestigioso prêmio literário da língua inglesa”, que será anunciado em outubro. Bem a propósito: O menino que odiava mentira, de M. J. Hyland (Companhia das Letras, tradução de Angela Pessoa), que acabo de ler, foi finalista deste prêmio recentemente. Comprei atraído pelo texto da orelha. A Mulher leu primeiro e devorou. Pois bem. Houve dois momentos em que a leitura ameaçou decolar, o segundo deles lá pela pág. 280. Mas não passou de ameaça. Só insisti porque a sinopse era pra lá de interessante, e paguei pra ver se seria surpreendido na reta final. Nada.
Dia desses, Anna V., editora e tradutora residente no Rio, dedicou um longo post a Liberdade, de Jonathan Franzen, e à badalação em torno da obra. Quando um livro vira unanimidade e ganha comentários como “O livro do ano”, e autor ganha capa da Time etc, é de desconfiar. Vale ler o post-resenha de Anna, que caminha na contramão do que todos andam dizendo.
Cânone da literatura ocidental? Clássicos que não posso deixar de ler? Balela. Mais vale confiar no próprio faro e sair bailando no Bloco do Eu Sozinho.

14 de setembro de 2011

Confiança

Vi acontecer em Berlim, há oito anos, mas achei que seria uma questão de tempo para os alemães caírem na real. Que bom que me enganei.
A cena se repetiu em Munique. Você compra o bilhete do S-Ban (uma espécie de metrô de superfície) e deve validá-lo na maquininha à entrada da estação. Tudo aberto, não há catracas. De quando em quando, um fiscal entra no vagão, pra verificar se você cumpriu as normas. Se estiver sem o bilhete, ou se não o validou, é multa pesada.
Claro que deve ter gente fraudando. Mas o bacana é que, mesmo com as eventuais trapaças, o recado subliminar seja: “Até que prove o contrário, você merece confiança”.

12 de setembro de 2011

Munique

Coisas de país rico. À saída do aeroporto, notamos que o táxi que nos levará ao hotel é uma quase réplica do Match-5, do Speed Racer. Em via expressa até o centro, alcançava 160, 170 km/h, fácil.
Ao volante, o motorista turco, residente no país há 20 anos, soltava cobras e lagartos contra os alemães.
Dirigir um BMW ou uma Mercedes-Benz é fato banal na Bavária (região mais rica e cara da Alemanha, contam). Tanto que eles são deixados na rua à noite, nenhuma neura em relação a estacionamento.
Na rodovia em direção a Neuschwanstein (o castelo em que Walt Disney se inspirou), além da grata surpresa de ver uma ciclovia longuíssima e mui bem cuidada, ladeando a estrada, carros conversíveis pra todo lado. Num deles, num dia ensolarado, uma loiraça ao volante, cabelo esvoaçante.
Cena como essa, só em filmes do Elvis.

9 de setembro de 2011

Intimidade

As respostas que eu daria, em inglês, às perguntas da imigração alemã estavam pré-formuladas. Ensaiado, o roteiro do que dizer ao oficial de ar sisudo, mas gentil e polido.
Ao desembarcar, a surpresa. O destino era Munique, mas sendo um voo com escala em Madri, o controle se dá na Espanha.
“Hay que sacar los cinturones!”, urrava a oficial espanhola, marchando impaciente de um lado para outro. Meu inocente e casto cinto, vou ter que tirar? Estou magro, afinal; e se a calça cair? Ok, vamos lá.
O oficial me revista, manda esvaziar os bolsos, apalpa aqui e ali. As apalpadelas prosseguem, chegando à região... da virilha. Controlo para não gargalhar, de cócegas. Desconfiava de dólares na cueca? Sei lá. Sei que a verificação foi quase erótica. Melhor nem olhar para o rosto do homem, pensei, vai que é uma paquera.
Aterrissamos em Munique, e cadê o controle de imigração? Nada, portas escancaradas.
A tarefa estará a cargo dos espanhóis por ser uma questão... de pele, um lance assim meio latino? Vá saber.

8 de setembro de 2011

De volta à roça

Depois de duas semanas de um tremendo lufa-lufa, perambulando por Munique e Paris, volto ao silêncio e ao convívio com a bicharada.
A rigor, falar sobre a viagem é cair no vazio. Nenhuma palavra, imagem nenhuma é capaz de descrever o que vivi nestes dias. O primeiro impulso é me render ao silêncio, deixar isso tudo decantar, ver se sobra algo para ser dito.
Sensação de ter de fazer uma redação com tema livre. Ou pior, com o tema “Minhas férias” (quem não passou por tamanho horror?).
Fato é que não tenho de fazer coisa alguma. Isso me alivia.
No devido tempo, portanto, os posts começarão a pipocar.

17 de agosto de 2011

On the road

Desde a nossa chegada à roça, lá se vão quase três anos, a gana de sair viajando, que já não era grande coisa, praticamente virou fumaça. O movimento agora é o inverso: acolhemos os (poucos) dispostos a conhecer e explorar o Brasil profundo.
Mas é saudável, de quando em quando, mudar radicalmente de ideia, e deixar a toca. Em breve, impressões da viagem. Até.

15 de agosto de 2011

Show involuntário

“As mãos de um violonista são totalmente diferentes uma das outras. A esquerda tem um trabalho árduo, apertando e deslizando sobre as cordas. A direita, tarefas quase microscópicas, criando efeitos miniaturizados que dependem muito das unhas. Isto faz com que a esquerda tenha um aspecto mais másculo e a direita uma aparência feminina, até mesmo por causa das unhas.
(...)
Um dia, no metrô de Paris, apinhado, discutíamos [Oscar Cárceres e eu] os formatos de nossas unhas. As minhas, curtas e triangulares; as dele, enormes, longas e curvas. Comparávamos as mãos e, para isso, éramos obrigados a empalmar a mão um do outro. De repente, percebo. Estávamos dando um ‘show’ completo. Dois marmanjos comparando suas mãos e, ainda por cima, num dialeto incompreensível para aqueles franceses voltando do trabalho.”
Da crônica Ode às mãos, em Mentiras... ou não? – Uma quase autobiografia, de Turibio Santos (Jorge Zahar Editor).

10 de agosto de 2011

O nazareno padece das traduções

“Dizem que, quando Jesus ressuscitou após a crucificação, a primeira pessoa que o viu vivo foi Maria Madalena. Ela o amava imensamente. Correu em direção a ele. O Novo Testamento narra que Jesus disse: ‘Não me toque’. Tenho minhas desconfianças de que ele realmente tenha dito isso. Não parece certo. Alguma coisa está errada aí. Claro que o papa pode dizer: ‘Não me toque’, mas Jesus... é quase impossível. Por isso, tentei pesquisar o original. No texto original, em grego, a palavra pode significar tocar ou apegar-se. Encontrei a chave. Jesus disse: ‘Não se apegue a mim’, mas os tradutores interpretaram como ‘Não me toque’. O intérprete usou a própria mente para a tradução. Jesus deve ter dito ‘Não se apegue a mim’ porque, se existe confiança, não há apego; se há amor, não há apego. Você simplesmente partilha, sem se apegar; partilha em profundo relaxamento.”
A música mais antiga do universo, de Osho. Tradução de Marcos Malvezzi Leal. Verus, 2009.

8 de agosto de 2011

Essa é pra tocar no rádio (11)

Chico Buarque – “O que eu digo, já disse e repito é que há muito pouca crítica de música. Há muita crítica de letra. É muito difícil alguém que compreenda a parte musical mesmo. Então é muito difícil encontrar quem saiba escrever sobre Tom Jobim. Nem compensa, é claro. Você não vai publicar uma partitura num jornal, publica uma letra (...). Para mim, isso é frustrante, porque eu vejo a letra tão dependente da música e tão entranhada na melodia, meu trabalho é todo esse de fazer a coisa ser uma só, que, geralmente, a letra estampada num jornal me choca um pouco. É quase uma estampa obscena (grifos meus).”


O comentário de Chico (em entrevista a Augusto Massi, no site do compositor) ganha importância com a audição de As cidades, álbum lançado em 1998. Destaco trechos de faixas do disco, exemplos de casamento perfeito entre letra, melodia e arranjos.

“Carioca”. a) “Gostosa, quentinha (quem vai?) tapioca / O pregão abre o dia...”. A entonação das duas primeiras palavras é típica do vendedor de rua; b) “O poente da esquina das tuas montanhas...” A melodia faz aqui uma parábola: uma curva ascendente, e descendo na última sílaba da palavra final.

“Iracema voou”. a) “Leva roupa de lã e anda lépida”. O adjetivo é pronunciado de modo acelerado; b) “Ambiciona estudar canto lírico”. Fazendo eco a este verso, as cordas compõem uma frase melódica, momento de maior emoção da canção; c) “Não dá mole pra polícia, se puder vai ficando por lá”. As notas correspondentes ao trecho grifado compõem um vai-e-vem que mimetiza a sirene do carro policial.

“A ostra e o vento”. “Vai e onda, vem a nuvem, cai a folha, quem sopra meu nome?”. Nestes versos e em alguns subsequentes, a linha melódica é descendente/ascendente/descendente/ascendente. Refletindo o movimento da onda.

O que eu teria a dizer sobre este álbum não cabe num post. “Iracema voou”, sozinha, mereceu uma análise de mais de duas páginas, numa oficina de música popular que preparei. “Você você”, parceria com Guinga, causa um estranhamento inicial, logo desfeito pelo subtítulo: uma canção edipiana. Nela, um fino retrato da relação filho/mãe, com sua carga quase patológica. “Cecília”, parceria com L.C. Ramos, impressiona pela sutileza, a começar pelo nome da “amada”, de sonoridade perfeita para ser “murmurado e soletrado no escuro”.

Paro por aqui. Minha intenção era dar a você um aperitivo.

As cidades está longe de ser um disco com canções “assobiáveis”. Um disco meio anacrônico, para ouvintes sem pressa num mundo acelerado, em que os prazeres são instantâneos. Um álbum cuja riqueza é diretamente proporcional ao esforço investido em sua audição.






5 de agosto de 2011

No início...

... é um pouco difícil, mesmo.

3 de agosto de 2011

Mistérios

Em meio à infinidade de livros e discos sobre os quais se pode opinar, e cujas qualidades podem ser destacadas, o que leva determinados resenhistas a escolher um para descer o sarrafo?

1 de agosto de 2011

Dolce far niente

Termino a tradução de mais um livro. Abro o jornal (Estadão de sábado), e lá está: saboroso artigo de Sérgio Augusto, intitulado “A arte de ficar à toa”. Algumas citações do texto:
“São os ociosos que transformam o mundo, porque os outros não têm tempo algum”. (Camus)
“A primeira prova de uma inteligência ordenada é poder parar e aquietar-se consigo mesmo”. (Sêneca)
“Quem não tem dois terços do dia para si é escravo, não importa o que seja: estadista, comerciante, funcionário ou erudito”. (Nietzsche)
Bem a calhar, ótimas epígrafes para mais um período de micro-férias.

27 de julho de 2011

Erros criativos

Texto recente de Braulio Tavares sobre erros de leitura –  “Missa dos Infernos” em vez da placa verdadeira, “Missa dos Enfermos”, “Desajuste ama”, em vez de “Jesus te ama” etc – trouxe à baila uma cena que deve acontecer diariamente, em tudo quanto é canto.
Ainda mais saboroso é quando os erros de leitura se combinam com os de audição, contaminando a linguagem cotidiana. Você certamente conhece alguém que more numa casa germinada, que numa determinada situação tenha matado dois coelhos com uma caixa d’água, que tenha distraído o dente, que esteja furando um poço cartesiano, e por aí vai.
Minhas leituras erradas rolam, sobretudo, com sinopse de filmes na tevê. Nada que um bom detergente aplicado à lente dos óculos não resolva. Mas dia desses pintou uma leitura curiosa. Cena: dentro do ônibus, perto de Itapecerica. Vejo pintado no muro ao longe, à beira da estrada: “FORRÓ PUC”. Bacana, forró universitário está - ou esteve? - na moda, afinal. Mas, logo da PUC, com as Perdizes a mais de 40 kms de distância? Terão aberto um campus novo por aqui?
Foi quando “esqüintei" (leia assim mesmo, com trema; inventei agora: hélas, o português não tem verbo tão bom quanto squint) pra ver melhor. “FORRO PVC”.

25 de julho de 2011

Amy

Dizem que era uma baita cantora, com um tremendo repertório. Dizem que só queria chamar a atenção. Que já estava ladeira abaixo, em sua carreira. Dizem isso e mais um monte de coisas.
Grande e injustiçada artista ou apenas mais uma carreira (sem trocadilhos) meteórica?
Sei lá, só sei que passou em branco, pois nunca a ouvi mais gorda. Eu deveria?

21 de julho de 2011

Meia-noite em Paris

De novo, saí de casa sem ler as resenhas. Tinha só a informação de que, diferentemente dos filmes anteriores, a audiência deste filme de Woody Allen tinha subido 12% de uma semana pra outra.
Com menos de 5 minutos, Paris sendo mostrada de vários ângulos, e o jazz onipresente dos filmes do diretor, o filme interno já operava a mil: reconheço esquinas por onde volta e meia eu circulava, lá se vão 15 anos.
Lá pelo meio do filme, um fato inédito pra mim. Uma cena (não digo qual) me leva às gargalhadas (contidas) e me toca profundamente, ao mesmo tempo.
As luzes se acendem, fico até o final dos créditos, ainda numa espécie de transe. No fundo da sala, a funcionária espera nossa saída, com um quê de impaciência. Flashback, ali, para a adolescência, época que eu poderia simplesmente ficar na poltrona, esperando a sessão seguinte. Nunca quis tanto ficar ali, quanto desta vez.
Já na rua, quase no modo automático, a mão vai para o bolso, para ligar o celular. Súbito, paro e mudo de ideia. Tenho flashes da época em que ninguém poderia me encontrar na rua: telefone, somente os fixos, ou então nos orelhões. Deixei desligado. Uma ligação qualquer (e alguém certamente ligaria: era o meu aniversário) acabaria com o encanto, me arrancaria daquele clima, em que eu mal conseguia articular uma frase. Numa hora como esta, ter o silêncio respeitado pelo outro é verdadeiro bálsamo. A volta ao mundo real foi arrastada, demorada.
Gil, o protagonista, viaja ao passado. Fui junto, várias vezes. O mais bacana: voltei completamente em paz.

20 de julho de 2011

Flip: final

Nos dias da Festa, hordas por todo lado. Mas bastou caminhar um pouco mais, para ter esta visão do Éden. E, dando um toque final ao meu pasmo: sem música ambiente.

18 de julho de 2011

Flip 3: Autor e obra

Há escritores que encontro pela primeira vez, e a partir do bate-papo, nasce uma enorme curiosidade de ler um livro de sua autoria. Com outros, é exatamente o contrário: a indiferença pré-encontro se transforma numa decisão obstinada de não ir atrás de suas obras. Há ainda os casos em que é melhor se limitar à leitura da obra do autor (degustar o foie gras sem querer conhecer o ganso), pra não correr o risco de espatifar o encanto.
Fato é que meu caso pessoal embaralha qualquer moral: provei o patê e fui atrás da gansa. E deu no que deu.

14 de julho de 2011

Flip 2: O meio-campo

Num evento literário com pelo menos dois participantes, o mediador é “o cara”. O sucesso ou o fracasso de uma mesa pode estar em suas mãos. Isso porque, às vezes, a conversa, por uma série de motivos inexplicáveis, acaba acontecendo com o freio de mão puxado. Faz toda a diferença, neste caso, quem está no meio: sua empatia com quem está conversando, em que medida se preparou para o evento, o elemento-surpresa que acrescenta a uma ou outra pergunta, fugindo ao roteiro pré-estabelecido... é neste momento que a habilidade do profissional fica escancarada.

Mediação refinada acabou tendo a Mulher, na mesa de que participou, com Suppa (ilustradora). Bia Hetzel, editora da Manati, foi o Paulo Henrique Ganso da FlipZona (versão Flip para os teens): mostrou perfeita visão do jogo, distribuiu passes (colocando a plateia/torcida na roda), não deu a nenhuma das duas o monopólio da palavra, levantava a bola redondinha para ambas. Um primor.

Outra escolha precisa foi a de Rodrigo Lacerda para entrevistar João Ubaldo Ribeiro. Patente, a intimidade entre ambos, nada de forçado, um deleite de papo. Um dos melhores momentos da Festa.

13 de julho de 2011

Flip (1)

Mesa com Bartolomeu de Queiroz e Ana Maria Machado. “Bartô”, como é conhecido, faz dois comentários fundamentais. Faço uma paráfrase deles: 1) a literatura é um espaço de liberdade; o grande problema é que esta liberdade não existe na escola de hoje; esta se caracteriza pelo dever, pela obrigação, pela necessidade de medir resultados, o tempo todo. Dentro deste espaço, a literatura, essencialmente livre, fica sufocada; 2) há os leitores para consumo interno e os leitores para consumo externo; os últimos sempre “fazem” algo com aquilo que consomem, usam isso para impor seu saber e sua autoridade sobre os demais.

É de lamentar, o fato de a conversa entre tais autores (e estas ideias) ter sido limitada a um evento da Casa de Cultura local. Embora seja assunto de “gente grande”, não há na Flip um espaço específico para ele. Uma pena, pois: a) é uma discussão que obviamente não se limita ao público consumidor de livros infanto-juvenis (grande parte da plateia era formada por professores da rede), e que poderia muito bem ser tema de um dos eventos principais da Flip, na Tenda dos Autores; b) com isso, é aprofundado o abismo entre os diferentes públicos, uma divisão alimentada pelo preconceito ainda existente, em relação àqueles que “escrevem estes livrinhos para criança”.

12 de julho de 2011

Digerindo

Festa acabada, músicos a pé...
Cinco dias no meio das hordas. Interagindo, vendo palestras, ouvindo, registrando cenas. Para quem sai da roça e vive isso, a sensação é a de ter traçado uma feijoada completa, e repetido o prato.
À digestão, pois. Deixar isso tudo decantar e, em alguns posts, registrar apenas o essencial. Licencinha, vou lá engolir um engov e já volto.

4 de julho de 2011

Em trânsito

Saio da réplica de iglu que virou nossa casa no campo, e caio numa Sampa ainda mais gelada. “Vocês brasileiros não levam o inverno a sério, principalmente quando constroem suas casas”, o sábio comentário de um europeu.
Mas é um bater de dentes transitório. Na 4ª, sigo para Paraty, onde a Mulher e eu acompanharemos a Flip e a Flipinha.
Quem sabe, de outra latitude e rodando sobre paralelepípedos, este blog engata uma segunda marcha?

30 de junho de 2011

Woody Allen

Dobradinha do diretor, ontem no Telecine: Trapaceiros (Small Time Crooks), seguido de Dirigindo no escuro (Hollywood Ending), que já valeram pela assinatura do mês. Se você não viu este último, recomendo vivamente, um de meus prediletos. Curioso é o fato de, em 2002, Allen antecipar, em sua sequência final, o que rolaria dez anos depois, no filme atualmente em cartaz, Meia noite em Paris. Com a sutileza habitual de sua sátira e autodeboche, sempre refinados.

27 de junho de 2011

A era da ilusão

Um aspecto que me estimula muito, no trabalho de tradução, é a diversidade dos temas. Psicologia, educação, música popular, história, sociologia, auto-ajuda, proliferação nuclear, eis alguns assuntos pelos quais passeei. Descobrir o tema do livro seguinte apenas na véspera só faz realçar o gosto da descoberta.

Acaba de ser lançado o penúltimo que traduzi (em parceria com Elvira Serapicos): A era da ilusão, de Mohamed ElBaradei (Ed. Leya Brasil). Entre 1997 e 2009, ElBaradei foi o Diretor-Geral da Agência Internacional de Energia Atômica, órgão da ONU, e juntamente com a AIEA, recebeu o Nobel da Paz em 2005 por seu trabalho.

Narra sua experiência nos bastidores da política internacional, em países como o Iraque, o Irã, Paquistão e Coreia do Sul. O testemunho do autor contém uma série de elementos históricos que ajudam a desconstruir por completo a farsa montada pelo governo Bush para justificar a Guerra no Iraque. Revela com detalhes a prática deliberada de dissimulação, de fraude, de ocultamento da parte dos governos destes países, no que diz respeito à política de proliferação nuclear (nesse sentido, o título da edição portuguesa do livro, Era da Mentira, tradução de Age of Deception, é igualmente oportuno). Os obstáculos com que depara, em seu trabalho em prol da não-proliferação nuclear, deixam claro os inúmeros interesses dos Estados, mas sobretudo o flagrante desequilíbrio de forças entre os países detentores de energia e armas nucleares e os que não as possuem. Em meio aos interesses conflitantes, a tentativa de conciliação e de isenção da parte da Agência, que embora seja um órgão da ONU, muitas vezes se vê limitada ou mesmo impotente diante do poder dos governos.

Um livro que, além do desafio inerente – um enorme estímulo para qualquer trabalho de (re)criação – trouxe consigo uma considerável dose de responsabilidade: me/nos transformar em veículo de uma voz de grande importância no atual cenário político mundial.


22 de junho de 2011

Célebres e anônimos

“Enquanto a fama bloqueia e constringe, a obscuridade envolve a pessoa como se fosse uma névoa; a obscuridade é escura, ampla e livre; a obscuridade permite que a mente trace seu caminho sem encontrar obstáculos. Sobre o indivíduo obscuro pousa a impregnação suave das trevas. Ninguém sabe onde ele vai nem de onde está vindo. Ele pode ir em busca da verdade e proclamá-la; ele é o único que é de fato livre; o único que é verdadeiro, o único que experimenta a paz”. Virginia Woolf, citada num post de Braulio Tavares (tradução de...?).

“Jesus disse inúmeras vezes: ‘Os últimos serão os primeiros’. (...) Se você é o último, todos o deixam em paz, ninguém o perturba, você pode ser simplesmente você mesmo. E quando você está disposto a ser o último, pode ficar no presente – do contrário, não. Se você quiser ser o primeiro, terá de ficar no futuro, porque deverá pensar: ‘Como serei o primeiro? Como tirar de lá as pessoas que já estão lá, e arrumar um lugar para mim: Como lutar? Como manejar? O que fazer? O que não fazer?’. Você estará no futuro. Tentar ser o primeiro é viver no futuro: se você quiser ser o primeiro, terá de projetar, se preocupar com o futuro. E de onde tirará suas ideias? Do passado. Assim, você permanecerá no passado e no futuro, mas perderá o presente”. Osho, A flauta nos lábios de Deus (Verus, tradução de Marcos Malvezzi Leal).

20 de junho de 2011

Interatividade

Em texto recente, Braulio Tavares compara a internet àquele microfone que é colocado à disposição da plateia, para perguntas em palestras e debates. Ali, tendo agarrado o microfone, o cidadão o não larga mais, contará uma história bem triste e mais metade de sua vida antes de fazer a pergunta, nem aí se os demais estão lhe dando ouvidos. Assim é a internet, diz Braulio, bilhões falando, tendo ou não audiência. Dentre eles, claro, o blogueiro que batuca estas linhas.

É a tal interatividade, que veio para ficar. Em telejornal ou talk show, programa sobre música, esporte, política ou culinária, não importa: o ouvinte/espectador terá voz e participação – isso quando não rola no teatro, onde você, quietinho no seu canto, é chamado ao palco para contracenar, sapatear etc. E dá-lhe “Sou fã número 1 do seu programa”, “Onde é que vamos parar?”, “É uma vergonha, esse país”, e platitudes do gênero.

O último bastião de resistência talvez seja o cinema. Tirante uma ou outra exceção (o assento atrás do seu é sempre um lugar de potencial perigo), ainda é possível assistir um filme de cabo a rabo sem saber a opinião do público. Mas é prudente não fazer alarde: não demora, um gênio da raça institui o intervalo no meio da sessão, com direito a debate – com o diretor, roteirista, montador, o diabo – e microfone para as intervenções da plateia. No que será imediatamente imitado. Somos um povo novidadeiro, afinal.

Outro dia, carreta tombada na rodovia fez o tráfego parar completamente. Cinco segundos após o motorista do ônibus desligar o motor, dezenas de mãos se agarraram aos celulares: “Benhê, tá tudo parado!”, “Amor, vou demorar, sem previsão” e por aí vai. Quem não tinha celular soltava uma lamúria, daquelas que sempre encontram eco no passageiro ao lado. Todos interagindo.

Carência? Talvez. Ou quiçá uma incapacidade crônica: fechar a matraca.

17 de junho de 2011

Summerhill

Volta e meia recebo, via e-mail, mensagem de pessoas interessadas nesta escola inglesa. Estudantes de Pedagogia, em geral. Isso porque escrevi, no blog antigo, alguns posts sobre minha visita à escola. Aqui, um breve relato, que foi dividido em duas partes.
Summerhill, uma senhora que neste ano completa 90 anos de idade, e com muita energia, ainda é vista como um lugar exótico, como uma experiência isolada dentro de uma ilha, e que não deu certo. Tal imagem, difundida em certos meios acadêmicos e também no mercado editorial, revela um misto de falta de informação e mero desinteresse. Isso porque Summerhill não está sozinha: existe um número crescente de escolas democráticas em todo o mundo, estabelecimentos que apostam e investem na capacidade da criança de tomar decisões, de agir com autonomia e de assumir responsabilidades (curiosamente, a Alemanha é um dos países que abrigam mais escolas desse tipo). A experiência desse tipo de escolas é descrita de maneira mais aprofundada por Helena Singer, no livro República de Crianças (Hucitec).
Em São Paulo, um exemplo vivo deste tipo de ensino não-tradicional é o Instituto Lumiar, que mantém uma escola na capital paulista, e outra em Santo Antônio do Pinhal. Escolas cuja proposta vale muito a pena conhecer, tendo em vista que o idealizador do instituto é Ricardo Semler (recomendo vivamente não só uma visita à Lumiar, como os seus livros e sua coluna quinzenal na Folha. Este livro é um ótimo ponto de partida). Merece especial atenção uma escola da rede pública municipal paulistana: EMEF Amorim Lima, no Butantã – inspirada na concepção da Escola da Ponte, em Portugal (Rubem Alves escreveu este belíssimo livro sobre ela), e com a qual mantém parcerias para o desenvolvimento de projetos.
O ensino tradicional vive uma crise sem precedentes, em grande medida devido à ingênua crença de que se pode manter o mesmíssimo modelo de escola de dois séculos atrás. Porém, experiências como as descritas acima me fazem acreditar na viabilidade de um projeto educacional por meio da escola.
Em tempo: seguem outras dicas preciosas de leitura, não apenas para educadores, mas para psicólogos, pais e qualquer um que se interesse pelo desenvolvimento integral da criança, e que tenha a humildade de reconhecer há muito a ser aprendido com a sabedoria delas.
1.       Quando eu voltar a ser criança, de Janusz Korczak (Summus).
2.      A obra de A. S. Neill, com destaque para o clássico Liberdade sem medo (Ibrasa).
3.      A free-range childhood – Self-regulation at Summerhill School, de Matthew Appleton (que traduzi, mas ainda aguarda publicação), uma excelente referência para quem deseja saber mais sobre a escola fundada por Neill. Neste post, transcrevo breves trechos do livro de Matthew, que trabalhou como houseparent na escola durante muitos anos.
4.      Matéria sobre Neill, publicada na revista Nova Escola, especial Grandes Pensadores (edição de outubro de 2008).

16 de junho de 2011

Dormindo macacos

Motivo clássico de chacota é a tradução de filmes, para cinema ou televisão. Atire o primeiro dicionário quem não contou pra meio mundo o absurdo que leu na legenda, na noite anterior. O índice de deslizes destes profissionais, no entanto, tem sido cada vez menor. Sobretudo no cinema. Em DVD, volta e meia aparece um “eventualmente” completamente deslocado, mas em geral, o nível parece bom. Ok, descontem o fato de que raramente alugo DVDs.
Já na tevê, embora haja incontáveis exemplos de ótimas traduções, em muitos casos adentra-se a terra-de-ninguém. Zapeando dia desses, naqueles momentos em que se alimenta a vã esperança de encontrar algo que preste, topei com um programa chamado Dormindo macacos. Segui adiante. Mas o espectro dos símios continuava a me atormentar. Como assim? Não seria Ninando macacos? Ou Dormindo com Macacos (zoofilia, talvez, vá saber)?  Foi quando tive o clique. Sleeping Monkeys, é claro.
Dia seguinte, cena de filme também na TV. O cara chega no bar, e pede um uísque duplo nas rocadas. Decerto o personagem queria a bebida com gelo, sem água. Sim, você já sacou a expressão dita no original. Guglei, para saber se a expressão é comum em Portugal ou noutras terras. Nenhuma ocorrência de uso.
Na época em que eu lecionava português, colecionava deslizes de revisão dos jornais, aproveitando-os em sala de aula. Exemplos, havia à mancheia. Para além do inevitável riso, o professor de inglês pode muito bem se valer do farto material que a telinha nos oferece de bandeja.  

Lado B
Como contraponto, segue uma declaração de Carolina Alfaro, tradutora e professora de tradução de legendagem, em entrevista a Petê Rissatti.

“A qualidade da legendagem no Brasil é excelente. Os padrões de qualidade estão cada vez mais rigorosos e os clientes são cada vez mais exigentes ao selecionarem seus profissionais. O que não é muito óbvio, sobretudo no caso de DVDs e de canais de TV a cabo, é saber quais traduções são feitas no Brasil e quais vêm do exterior. Os canais Sony, Warner e parte da programação da Fox, por exemplo, são traduzidos fora do Brasil e apresentam graves problemas linguísticos e técnicos. Basta compará-los a canais como Multishow, GNT ou os Telecines para notar a diferença”.


13 de junho de 2011

Drops

Colecionei uma série de notas mentais para a volta. Se enfileirar todas, o post resultará quilométrico – o que, na internet, funciona como espantalho. Segue só uma palinha.

1.       Uma das coisas boas do período de micro-férias é a descoberta de blogs bacanas, como atesta a pequena esticada na lista de links ao lado. Para o internauta à deriva, uma verdadeira perdição. O lado positivo disso é poder desviar o foco, naquele momento do dia em que é vital espairecer, mudar completamente de assunto.
2.      Você, colega de profissão, o que diz quando lhe perguntam o que faz da vida, “Mexo com tradução”, “Trabalho com tradução” ou “Sou tradutor(a)”? Ou n.d.a.? Levei algum tempo para passar da segunda resposta (pulei a primeira, nunca fui muito de mexer) à terceira – ligeira mudança de palavras, mas que caminha par a par com a auto-estima. Mas passei. Resposta que dou de bate-pronto, ainda que eventualmente, como já vi acontecer, ela deixe o interlocutor com cara de paisagem. Taí, divagações a partir da leitura do post “Tradução, sim!”, no site de Petê Rissatti.
3.      Resenha de um livro de Maupassant (O horla, a cabeleira, a mão e o colar, Ed. Artes e Ofícios), no Estadão. São cinco, os tradutores, e o jornal dá o crédito a todos. Alvíssaras!
4.      Pela primeira vez sou tomado pelo forte impulso de, terminada a leitura de um livro, comprar a edição original em inglês, para cotejar com a tradução. Por causa dos erros? Muito pelo contrário. Devido à elegância na reprodução do estilo original e no fraseado, ao cuidadoso equilíbrio entre os registros coloquial e formal. O livro: Solar, de Ian McEwan (Cia. das Letras). Tradução de Jorio Dauster. Lolita, de Nabokov, também traduzido por ele, já tinha me causado uma senhora impressão. O assombro só fez aumentar. Dica: também no site de Petê, uma entrevista com ele.

10 de junho de 2011

Voltando...

O plano inicial era retornar em julho. Mas me dou o direito sagrado de mudar de ideia a cada meia hora. Motivos que me levam à decisão? Aí vão alguns.

1.       A entressafra de trabalhos acaba de terminar. E nada como fazer o blog acompanhar o ritmo de vida normal.
2.      O número de cenas cotidianas (fragmentos de livro, filmes etc) dignas de um mínimo registro, por aqui, nunca foi tão grande como nessas duas semanas.
3.      Já disse isso, há algum tempo. Ainda na casa antiga. No que diz respeito à minha profissão, já entrei na fase em que tenho dificuldades para distinguir, em inúmeras situações, trabalho, estudo e lazer. Com isso, o próprio significado de “férias” fica comprometido.
4.      Distanciar-se do blog traz a inevitável pergunta: sinto falta de escrever? A resposta pode mudar a qualquer momento, mas por enquanto é um sonoro sim.

Portanto, segunda-feira tem post novo. Até lá.