29 de dezembro de 2011

Feliz Ano Velho

Não é mera frase de efeito. Como você bem sabe, este é o nome do romance livro de estreia (autobiográfico) de Marcelo Rubens Paiva, que acabo de ler. Uma prosa deliciosa, num relato leve, bem humorado, sem qualquer frescura estilística. Sem a mínima dose de autopiedade. Altamente recomendável para todos aqueles que têm a tendência de encarnar o papel de vítima.
Livraço. E pensar que o cara só tinha 20 anos ao escrever aquilo.
Um belo modo de terminar o ano.
Até mais.

22 de dezembro de 2011

Jingles (Bells)

Estrela brasileira do céu azul, iluminando de norte a sul, mensagem de amor e paz, nasceu Jesus, chegou Natal. Papai Noel voando a jato pelo céu trazendo um Natal de felicidade, e um Ano Novo cheio de prosperidade.
A fiel leitora, balzaquiana ou além, certamente lembrará disso. E também da bela escala que desce e sobe, começando em “Papai Noel”, terminando em “céu”.
A empresa aérea foi para o buraco, mas o jingle ficou. Aliás, como já fomos bons em jingles, não?
E esta outra, que martelou nossos tímpanos.
Dezembro vem o Natal, os presentes mais bonitos, as lembranças mais humanas. Até os entes queridos, todos vão comprar nas ............................................. [se não tem cachê, omito o nome]. Em todos os lares, a paz seja total, e mais os nossos votos de Feliz Natal.
...
Taí, é o que dá, ter uma memória musical que registra absolutamente tudo. Da linha melódica de um moteto de Bach ao novo hit do Bonde do Tigrão.

19 de dezembro de 2011

Fast-forward

“It’s as if we become addicted to the satisfaction of knowing. But that knowing doesn’t last for long. We may know about the why of this, but what about the why of that? Fast-forward and we’re left with the why of the world”.
Trecho do livro que estou traduzindo. Ganha um Christmas pudding caseiro quem conseguir traduzir o verbo sublinhado acima usando menos de quatro ou cinco palavras.
Não paro de me surpreender com a concisão da língua inglesa. Saboroso, isso.
E ainda tem quem acredite que as máquinas poderão fazer nosso trabalho. Tsc, tsc...

14 de dezembro de 2011

Led Zeppelin

Descobri o grupo aos 14 anos, por intermédio de um amigo que era vidrado nos caras. Ele chegava a deixar o cabelo parecido com o de Robert Plant. Botava os LPs pra tocar, e ficava dizendo: “Ouve só isso, cara!”. E eu... “É mesmo, muito bom”. Sem grande convicção.
Enquanto esse meu amigo mergulhava de cabeça no rock’n’roll, o caçula dos Fragoso recebia doses cavalares de MPB em casa. O Led, portanto, nunca fez muito minha cabeça. Diferentemente do Pink Floyd, por exemplo. Banda que sempre me impressionou muito.
Corte. Três décadas mais tarde. Na caixa de e-mails, pipoca o convite do editor: tradução de um livro sobre o Led Zeppelin. Topa?
Eita, como não?!
Prazo apertado, dividimos o bolo da tradução. O resultado, aí está, recém-saído da fornalha:
Whole Lotta Led Zeppelin – A história ilustrada da banda mais pesada de todos os tempos, de Jon Bream (org.). Tradução de Gustavo Mesquita, Anna Paola Monteiro e deste escriba. Editora Agir.

Atualização: estive hoje na livraria em Sampa e folheei o livro. Putisgrila!!! Que maravilha de edição. De encher os olhos. Deu gana de começar a ouvir os caras.

7 de dezembro de 2011

Sócrates

– Desculpe perguntar, mas você não é...
Ao ouvir as primeiras palavras, eu já completo:
 ... parente do Sócrates?
Morando em SP, eu costumava ser abordado nas ruas com esta pergunta, em média, uma vez por semana. À medida que os anos iam passando, a semelhança aumentava, e o número de abordagens idem. Claro que eu não me chateava. Muito pelo contrário. Taí mais uma excelente razão pr’eu manter a barba. Notarem semelhança física entre o que vejo no espelho e um cara da estatura do Magrão... putz, quer coisa mais bacana que isso?
Palmeirense naquela época (hoje, meu apego a times é nulo; minha torcida é pelo futebol bonito), eu acompanhava Sócrates e o Corinthians meio à distância, mais atento aos seus gols e principais lances. Curtia seu jeito cool de comemorar os tentos (curiosamente tido, por alguns, como atitude de jogador “mascarado”).
Embora, politicamente falando, eu ainda engatinhasse, percebi a enorme importância do movimento que ele, Casagrande e outros lideraram no Corinthians, a “Democracia Corintiana”, para o contexto político da época. Por exemplo, Sócrates se opunha abertamente às famosas “concentrações” dos jogadores, na véspera das partidas, o que equivaleria, na visão dele, a “tratar os atletas como incapazes, como criancinhas sem responsabilidade”.
Tive novo encanto ao descobrir os textos do Doutor, na revista CartaCapital. Dono de senso crítico aguçado, sua coluna semanal trazia um estilo elegante e um texto denso, mas sem pompas. Volta e meia, ilustrava opiniões com seu amplo repertório de leituras, sempre contextualizado e a serviço da argumentação. Nenhuma demonstração de falsa erudição. Durante anos, escreveu crônicas que refletiam a mesma categoria de suas passadas em campo e de seus toques de calcanhar.
Torço agora para que uma biografia do homem seja publicada em breve (só nos poupem de caça-níqueis editados às pressas, por favor!), que algum jornalista (além de Juca Kfouri, algum forte candidato?) lhe preste uma homenagem à altura, de preferência numa bela e luxuosa edição. Sem a pretensão de santificá-lo (atitude de praxe com os que morrem, neste país), apenas mostrando sua dimensão humana. Um livro que narre a trajetória de um jogador cuja postura, dentro e fora de campo, despertou a admiração de tanta gente, corintianos ou não (Sócrates Brasileiro Sampaio etc: o próprio nome transcendia a divisão entre torcidas). De um cara que, apesar – ou por causa – do status de ídolo, sempre esteve atento para não permitir que o próprio ego o sufocasse. Afinal, oportunidades para criar uma percepção de si mesmo como acima dos mortais, ele teve de sobra.
Em tempo: o Cartão Verde de ontem, na TV Cultura, foi possivelmente a homenagem mais linda que Sócrates poderia ter recebido. E sem a mínima pieguice. Se o programa estiver no YouTube, não deixe de ver.
Valeu, Magrão!

5 de dezembro de 2011

Drops

Corinthians campeão. Assisti aos 90 minutos do jogo final contra o Palmeiras sem som. Só as imagens e, no fundo, os urros do vizinho. Experimente quando puder: sem a histeria toda, tudo fica infinitamente melhor.
Universo feminino (1). Restaurante em S. Lourenço. Cena que eu não via há pelo menos vinte anos. Duas amigas almoçam juntas. Súbito, uma delas faz um comentário que faz a outra dar uma deliciosa gargalhada, daquelas de jogar a cabeça pra trás. Nota que merece registro: espiei na mesa, e não havia cerveja, vinho, nenhum estimulante alcóolico. Um riso espontâneo.
Universo feminino (2). Num restaurante de Sampa, almoço de colegas da firma, dois homens e uma mulher. Reproduzo uma fala da mulher, sem intromissões de revisor: “Prefiro trabalhar com quarenta pião de obra do que ter que trabalhar com mais duas mulher na sala”.