27 de julho de 2011

Erros criativos

Texto recente de Braulio Tavares sobre erros de leitura –  “Missa dos Infernos” em vez da placa verdadeira, “Missa dos Enfermos”, “Desajuste ama”, em vez de “Jesus te ama” etc – trouxe à baila uma cena que deve acontecer diariamente, em tudo quanto é canto.
Ainda mais saboroso é quando os erros de leitura se combinam com os de audição, contaminando a linguagem cotidiana. Você certamente conhece alguém que more numa casa germinada, que numa determinada situação tenha matado dois coelhos com uma caixa d’água, que tenha distraído o dente, que esteja furando um poço cartesiano, e por aí vai.
Minhas leituras erradas rolam, sobretudo, com sinopse de filmes na tevê. Nada que um bom detergente aplicado à lente dos óculos não resolva. Mas dia desses pintou uma leitura curiosa. Cena: dentro do ônibus, perto de Itapecerica. Vejo pintado no muro ao longe, à beira da estrada: “FORRÓ PUC”. Bacana, forró universitário está - ou esteve? - na moda, afinal. Mas, logo da PUC, com as Perdizes a mais de 40 kms de distância? Terão aberto um campus novo por aqui?
Foi quando “esqüintei" (leia assim mesmo, com trema; inventei agora: hélas, o português não tem verbo tão bom quanto squint) pra ver melhor. “FORRO PVC”.

25 de julho de 2011

Amy

Dizem que era uma baita cantora, com um tremendo repertório. Dizem que só queria chamar a atenção. Que já estava ladeira abaixo, em sua carreira. Dizem isso e mais um monte de coisas.
Grande e injustiçada artista ou apenas mais uma carreira (sem trocadilhos) meteórica?
Sei lá, só sei que passou em branco, pois nunca a ouvi mais gorda. Eu deveria?

21 de julho de 2011

Meia-noite em Paris

De novo, saí de casa sem ler as resenhas. Tinha só a informação de que, diferentemente dos filmes anteriores, a audiência deste filme de Woody Allen tinha subido 12% de uma semana pra outra.
Com menos de 5 minutos, Paris sendo mostrada de vários ângulos, e o jazz onipresente dos filmes do diretor, o filme interno já operava a mil: reconheço esquinas por onde volta e meia eu circulava, lá se vão 15 anos.
Lá pelo meio do filme, um fato inédito pra mim. Uma cena (não digo qual) me leva às gargalhadas (contidas) e me toca profundamente, ao mesmo tempo.
As luzes se acendem, fico até o final dos créditos, ainda numa espécie de transe. No fundo da sala, a funcionária espera nossa saída, com um quê de impaciência. Flashback, ali, para a adolescência, época que eu poderia simplesmente ficar na poltrona, esperando a sessão seguinte. Nunca quis tanto ficar ali, quanto desta vez.
Já na rua, quase no modo automático, a mão vai para o bolso, para ligar o celular. Súbito, paro e mudo de ideia. Tenho flashes da época em que ninguém poderia me encontrar na rua: telefone, somente os fixos, ou então nos orelhões. Deixei desligado. Uma ligação qualquer (e alguém certamente ligaria: era o meu aniversário) acabaria com o encanto, me arrancaria daquele clima, em que eu mal conseguia articular uma frase. Numa hora como esta, ter o silêncio respeitado pelo outro é verdadeiro bálsamo. A volta ao mundo real foi arrastada, demorada.
Gil, o protagonista, viaja ao passado. Fui junto, várias vezes. O mais bacana: voltei completamente em paz.

20 de julho de 2011

Flip: final

Nos dias da Festa, hordas por todo lado. Mas bastou caminhar um pouco mais, para ter esta visão do Éden. E, dando um toque final ao meu pasmo: sem música ambiente.

18 de julho de 2011

Flip 3: Autor e obra

Há escritores que encontro pela primeira vez, e a partir do bate-papo, nasce uma enorme curiosidade de ler um livro de sua autoria. Com outros, é exatamente o contrário: a indiferença pré-encontro se transforma numa decisão obstinada de não ir atrás de suas obras. Há ainda os casos em que é melhor se limitar à leitura da obra do autor (degustar o foie gras sem querer conhecer o ganso), pra não correr o risco de espatifar o encanto.
Fato é que meu caso pessoal embaralha qualquer moral: provei o patê e fui atrás da gansa. E deu no que deu.

14 de julho de 2011

Flip 2: O meio-campo

Num evento literário com pelo menos dois participantes, o mediador é “o cara”. O sucesso ou o fracasso de uma mesa pode estar em suas mãos. Isso porque, às vezes, a conversa, por uma série de motivos inexplicáveis, acaba acontecendo com o freio de mão puxado. Faz toda a diferença, neste caso, quem está no meio: sua empatia com quem está conversando, em que medida se preparou para o evento, o elemento-surpresa que acrescenta a uma ou outra pergunta, fugindo ao roteiro pré-estabelecido... é neste momento que a habilidade do profissional fica escancarada.

Mediação refinada acabou tendo a Mulher, na mesa de que participou, com Suppa (ilustradora). Bia Hetzel, editora da Manati, foi o Paulo Henrique Ganso da FlipZona (versão Flip para os teens): mostrou perfeita visão do jogo, distribuiu passes (colocando a plateia/torcida na roda), não deu a nenhuma das duas o monopólio da palavra, levantava a bola redondinha para ambas. Um primor.

Outra escolha precisa foi a de Rodrigo Lacerda para entrevistar João Ubaldo Ribeiro. Patente, a intimidade entre ambos, nada de forçado, um deleite de papo. Um dos melhores momentos da Festa.

13 de julho de 2011

Flip (1)

Mesa com Bartolomeu de Queiroz e Ana Maria Machado. “Bartô”, como é conhecido, faz dois comentários fundamentais. Faço uma paráfrase deles: 1) a literatura é um espaço de liberdade; o grande problema é que esta liberdade não existe na escola de hoje; esta se caracteriza pelo dever, pela obrigação, pela necessidade de medir resultados, o tempo todo. Dentro deste espaço, a literatura, essencialmente livre, fica sufocada; 2) há os leitores para consumo interno e os leitores para consumo externo; os últimos sempre “fazem” algo com aquilo que consomem, usam isso para impor seu saber e sua autoridade sobre os demais.

É de lamentar, o fato de a conversa entre tais autores (e estas ideias) ter sido limitada a um evento da Casa de Cultura local. Embora seja assunto de “gente grande”, não há na Flip um espaço específico para ele. Uma pena, pois: a) é uma discussão que obviamente não se limita ao público consumidor de livros infanto-juvenis (grande parte da plateia era formada por professores da rede), e que poderia muito bem ser tema de um dos eventos principais da Flip, na Tenda dos Autores; b) com isso, é aprofundado o abismo entre os diferentes públicos, uma divisão alimentada pelo preconceito ainda existente, em relação àqueles que “escrevem estes livrinhos para criança”.

12 de julho de 2011

Digerindo

Festa acabada, músicos a pé...
Cinco dias no meio das hordas. Interagindo, vendo palestras, ouvindo, registrando cenas. Para quem sai da roça e vive isso, a sensação é a de ter traçado uma feijoada completa, e repetido o prato.
À digestão, pois. Deixar isso tudo decantar e, em alguns posts, registrar apenas o essencial. Licencinha, vou lá engolir um engov e já volto.

4 de julho de 2011

Em trânsito

Saio da réplica de iglu que virou nossa casa no campo, e caio numa Sampa ainda mais gelada. “Vocês brasileiros não levam o inverno a sério, principalmente quando constroem suas casas”, o sábio comentário de um europeu.
Mas é um bater de dentes transitório. Na 4ª, sigo para Paraty, onde a Mulher e eu acompanharemos a Flip e a Flipinha.
Quem sabe, de outra latitude e rodando sobre paralelepípedos, este blog engata uma segunda marcha?