28 de março de 2012

Millôr e as traduções

Ele vai fazer falta. Como homenagem, a lembrança de algumas de suas “traduções televisivas”.

1. Questo oro é di lei? – Isto é ouro de lei?

2. Rez-de-chaussée – O rei do calçado.

3. Consummatum est – Consumação incluída.

4. Cover girl – A moça da cobertura

5. Cogito, ergo sum – Cogito de levantar uma gaita.

6. Dolce far niente – Não tem sobremesa.


Millôr definitivoA bíblia do caos, L&PM, 1994.

22 de março de 2012

Cadê o piloto?

1. Você recebe um e-mail de um cidadão que lhe escreve pela primeira vez: “Bom dia, fulano. Como vai você hoje?” Hein?!? Sacode a cabeça: como assim, hoje?. De que planeta estará escrevendo, o indivíduo? Google Translator strikes again.

2. Você é revisor, e na leitura dos textos (teses, artigos de jornal, revista, não importa: tá tudo dominado), depara com uma profusão de maiúsculas nos títulos de livros, CDs e demais obras. Um exemplo, obra de Woody Allen: Tudo O Que Você Queria Saber Sobre Sexo E Tinha Vergonha De Perguntar. A poluição visual o deixa atordoado, e você vai ceifando as letras, uma a uma.

3. Abre sua caixa de e-mails, e lá encontra um, que vai direto ao assunto: “Gostaríamos de saber de sua disponibilidade para um trabalho de tradução etc etc”. (Em geral, a gramática é bem mais manca do que neste exemplo, mas vá lá). Assim, à queima-roupa, sem olá, sem bom dia, nada. Você não é dado a salamaleques, mas a abordagem lhe põe um pulgão atrás da orelha.

4. Entra na padaria da cidade, onde almoça duas vezes ao mês. Vem o garçom: “Já pediu, meu patrão?” Minutos depois: “Aqui está. Mais alguma coisa, meu patrão?”. Ao final: “Obrigado, até logo, meu patrão”. Você tem o ímpeto de dar o aviso prévio ao cidadão. Justa causa.

5. Regularmente, você recebe e-mails de certa pessoa. Pela 30ª vez, ela não acerta a grafia de seu nome. Seu nome tem apenas 4 letras, e invariavelmente ela erra uma delas, o que significa 25% ! E não estamos falando, aqui, de exemplos extremos (e verídicos), como Christyanne.

Alguma destas cenas do cotidiano tira você do sério? Provoca alguma reação em você? Uma gargalhada, pelo menos? Sei não, a impressão é de que a língua está sendo usada no piloto automático.

19 de março de 2012

Caronas Inteligentes

Soube deste serviço há alguns dias, por uma matéria veiculada no canal GloboNews. Para quem vê o trânsito de uma cidade como São Paulo caminhando a passos lentos e seguros na direção do caos total, é um bálsamo descobrir iniciativas como esta. Que devem ser compartilhadas.

O site é este aqui, o Caronetas – Caronas inteligentes. Basicamente, um serviço de caronas urbano. O usuário se cadastra na página da internet deles e, quando quer oferecer uma carona, coloca a informação no site. Quem deseja pegar carona, faz a procura também pelo site.

Exemplo hipotético: se estou na Vila Madalena e vou diariamente para meu escritório na Vila Olímpia, me basta digitar o CEP da rua onde moro e o CEP da rua do destino. Na hora, fico sabendo se tem alguém que faz o mesmo trajeto, e que more perto de mim.

Tudo gratuito. Não se gasta um centavo para o registro. Há empresas patrocinando o site, entre elas o Banco do Brasil e a TAM. Detalhe: aparentemente, pessoas físicas não podem fazer o cadastro, apenas empresas. Não ficou claro, porém, se micro-empresas também podem se cadastrar. Tudo indica que não há empecilho algum.

A reportagem da TV deu as estatísticas: o serviço já tem 800 empresas cadastradas, com 20 mil empregados podendo usufruir das caronas.

Achei uma sacada genial, a iniciativa. Que me trouxe boas lembranças de um serviço semelhante que usei, muitos anos atrás, indo de carona de uma cidade a outra, no interior da Alemanha. Pequena diferença: lá, precisei dar uma pequena ajuda de custo ao motorista, para o combustível. No Caronetas, custo zero.

Em tempo: não estou ganhando um tostão com esta divulgação. É puro entusiasmo. E olhe que nem moro nesta cidade!

Gostou do que leu? Então, compartilhe!

18 de março de 2012

Sem piscar

Desafios deste tipo é que fazem a diversão do tradutor. Lembrando que a orientação do editor é tentar manter o texto em português com o mesmo tamanho do original. Em certos casos, tarefa quase impossível. Tenta-se manter o espírito da coisa.

Pois bem, na descrição de uma cidade, aparece lá:

A blink-and-you-missed it town.

Uau.

Diga lá, leitor, a alternativa que lhe soa melhor:

1. Uma micro-cidadezinha

2. Uma cidade minúscula.

3. Uma cidade tipo “piscou, perdeu”.

4. Uma cidade tipo “piscou, já era”.

5. Uma cidade de primeira (engatou a segunda, acabou a cidade).

10 de março de 2012

Submerso

Nestes dias, pensei várias vezes em vir aqui batucar algumas linhas, comentar coisas como, por exemplo, o recente artigo de Luís Giron na revista Época, sobre o trabalho dos tradutores, e a repercussão que o texto tem tido (caso tenha interesse, dê uma espiadela no Facebook, no portal de Denise Bottmann).

Fato é que a tradução bola-da-vez não me deixa pensar noutro assunto. Ao deparar com a sofisticação da linguagem dos autores deste livro, minha primeira reação foi

Pooooooatzzz! Será que consigo encarar?

Mas é esse frio na barriga inicial que me leva adiante. Sempre. Sem ele, seria o tédio total. Santo desafio, Batman!, como diria o menino-prodígio.

Taí, está é apenas uma satisfação a você, teimoso leitor, que insiste em passar por aqui, ver se tem algo de novo. Estou completamente atolado, mas logo volto à superfície. E, mais adiante, falo deste livro e da experiência de traduzi-lo.