29 de maio de 2012

Cacofonia e humor involuntário

Com fusão, Azul e Trip garantem 15% do mercado nacional”. (Manchete num portal da internet, ontem).


O que me fez lembrar de uma frase mui boa, que ouvi há alguns anos:

"Atenção, senhores pais e responsáveis!" (Chamada feita pelo alto-falante, pela diretora de uma escola, numa festa de fim de ano).

24 de maio de 2012

Estreia

Depois de ter traduzido livros sobre vários assuntos (educação, História, música popular, sociologia, autoajuda etc), dou os primeiros passos num caminho diferente.
Tradução de livros de ficção.

Ueba.

Como de hábito, comentarei a experiência só quando o livro tiver sido publicado. Mas adianto que está sendo pra lá de bacana seguir os passos desta protagonista de 15 anos e toda cheia de problemas.

Agora me deem licença, que vou lá fazer a lição de casa: acompanhar os episódios de Gossip Girl. Só pra não correr o risco de colocar “broto”, “uma brasa, mora!” e quejandos na boca dos personagens teens...

23 de maio de 2012

Smiling Cops

“Policiais londrinos terão de sorrir e acenar ao público durante Jogos Olímpicos”. Portal Terra, 23/5/2012.


No way. Me recuso seguir essa instrução aí.

– Como assim, se recusa?

– Pô, esse pessoal não senso de ridículo? Policial sorrindo e acenando para o público?

– Ué, o que tem de mais?

– O que tem de mais? Estamos na Inglaterra, cara! Hello-ou!

– E daí?

– Meu! E o papo do stiff upper lip, como é que fica?

– ...?

– Ok, sei que na hierarquia você está acima de mim, mas vou refrescar tua memória. Neste país, segundo a tradição, a aristocracia (e todos nós temos um pingo desse sangue azul nas veias) foi treinada durante séculos para ocultar e dissimular as emoções. Se você ri pra alguém ou põe um sorrisão aberto na cara, está mandando um sinal: sou molengão, sou todo emotivo, sentimentaloide, podem me fazer de gato e sapato, que não vou reagir. Entra aí o tal treinamento com o modo correto de posicionar os lábios, coisa e tal. Você acha que nossos antepassados colonizaram metade da África, a Índia e o escambau, e se transformaram num império mundial de que jeito? Distribuindo sorrisos e afagos? Se liga, cara! Foi é na base da carranca, cara feia mesmo. Não tinha pra ninguém.

– Ok, mas isso é coisa do passado...

– Do passado?!? Você por acaso já viu os dentes da Thatcher? Do Blair? Do Cameron? Estilão Clint Eastwood, tough men, todos eles! Mas vê só: não é só político, não. Cunhado meu é professor numa escola. Sabe o que o cara ouve, ainda hoje, no treinamento dos professores, no início do ano letivo? Escuta só. “In class, you must not smile until Christmas and must not laugh until Easter”. Pros caras não irem ganhando confiança. Ah, caso você tenha se esquecido do detalhe: as aulas aqui começam em setembro.

– São outros tempos. Depois do babado com o tal do Jean Charles, nossa polícia não é mais a mesma. Esqueceu da cena do policial todo sorridente, que manda os carros pararem, pras pessoas atravessarem? Tem até um brasileiro, um tal de Caetano Veloso, que retratou isso aí numa música: descrevia lá um colega nosso da polícia, todo satisfeito em ajudar as pessoas.... A música é dos anos 60, mas não importa: afinal, o retrô agora está na moda.

– Mas isso é ridículo, meu! Não existe mais.

– É o que temos. Bom, é isso. Já vai treinando no espelho. Sorriso aberto e acenos ao público. E de modo espontâneo, pra não ficar com cara de miss. E vamos lá, põe aí a farda que daqui a pouquinho já começa o treinamento do pelotão.

– Mas...

– Não tem mas nem meio mas. E vai deixando essa carranca de lado. Ô Johnny, põe aí pra tocar aquela do Chaplin!

(Ao fundo) Smile... though your heart is aching.... smile….



17 de maio de 2012

Sem rodeio (*)

Há instantes, encontrei uma ótima ilustração para meu post de ontem. De Ernani Ssó, escritor, em sua coluna semanal no site Coletiva.net.


“Nos meus tempos de editor, felizmente curtos, me entregaram o romance de um político. Eu devia deixar o texto o mais aceitável possível. Lembro de uma cena, que começava mais ou menos assim: ‘O dia começou a entrar no portal da noite, passo a passo sumindo nas sombras inexoráveis’. Isso continuava por mais umas sessenta linhas. Fiz um xis sobre o parágrafo e anotei: ‘Anoiteceu’. O autor, ao se deparar com minha sugestão, estrilou (...)”

(*) Título alternativo: O Programa Linguiça Zero.

16 de maio de 2012

A (falta de) clareza na escrita

Jornal Brasil de Fato – Nos seus textos, é perceptível a intenção de ser entendido. Apesar de muito erudito, sua escrita é simples. Por que esse esforço de ser sempre claro?


Antonio Candido - Acho que a clareza é um respeito pelo próximo, um respeito pelo leitor. Sempre achei, eu e alguns colegas, que, quando se trata de ciências humanas, apesar de serem chamadas de ciências, são ligadas à nossa humanidade, de maneira que não deve haver jargão científico.

***

Defendo que a frase de Antonio Candido (sobretudo a primeira; o grifo é meu) seja colocada em outdoors pelas cidades, em letras garrafais. Que seja veiculada em tudo quanto é mídia, inserida em telejornais, mencionada e comentada pelos professores no início de cada curso, semestre ou ano. Que se torne uma espécie de mantra para todos que lidam com a linguagem escrita.

Isso porque a quantidade de textos obscuros que me têm caído no colo, para revisar, traduzir ou verter para o inglês, tem chegado a níveis alarmantes.

E pensar que estou me referindo, aqui, a indivíduos letrados, com pós-graduações e o escambau...

Mas se têm tal nível de formação, por que tanta obscuridade? Pra que tanto gelo seco no texto (nos shows, ok, cumprem a função de disfarçar visualmente o vazio musical)? Bem, em geral fica nítido que o sujeito não se entende bem com o próprio ego. Aí não tem remédio (Mas tende piedade de nós revisores, Senhor). Muitas vezes, porém, ele simplesmente está ignorando uma regra fundamental para qualquer um que tenha a escrita como ofício: só escreva quando tiver algo relevante a dizer (voilà, acabo de lhes apresentar uma justificativa razoável para os hiatos em meu blog). Caso contrário, aproveite esta excelente oportunidade de ficar calado.

11 de maio de 2012

Um sonho

É quando deparo com os exercícios e as provas de Língua Portuguesa que meu filho tem de enfrentar na 8ª série (e olha que a escola em que ele estuda é altamente conceituada) – e também com alguns (não poucos) textos que me aparecem para revisar – que percebo como este sonho de Sírio Possenti também é o meu. Um sonho que venho alimentando faz tempo.

8 de maio de 2012

O show e as lentes

Blogue não é lugar para textos longos, sei disso. Portanto, quando você chegar ao final do primeiro parágrafo, e começar a perceber sua atenção divagando, pare. Copie, cole, imprima, e leia mais tarde, com calma. Verá por que me dei o trabalho de copiá-lo, devagar, saboreando a releitura, pra compartilhar aqui.


***

Perto das lentes, longe do coração

Por Julio Maria (O Estado de S.Paulo, 28/04/2012)

Assim que Paul McCartney aparece, os celulares são erguidos com movimentos automáticos de braços. Milhares de braços. Mais precisamente, 60 mil deles. Grande parte da plateia ali nunca havia visto um beatle antes e o show que este faria em Florianópolis na última quarta-feira era anunciado como o “mais importante da história da cidade”. Os 30 mil lugares do estádio do Avaí estavam tomados por gente vinda de vários lugares. A TV local falou do assunto o tempo todo. A impressão era de que assim que Paul aparecesse, fãs cairiam enfartados. A emoção de ver um beatle por aquelas terras deixaria um rastro de corpos em convulsão etc. Ok, voltemos aos braços.

Assim que Paul aparece, a reação da plateia é uma louvação que termina quando a primeira canção começa. As pessoas erguem os braços agora para filmar, não mais para aplaudir. Certificam-se de que Paul esteja bem centralizado, de que a câmera esteja estabilizada. Checam o zoom, procuram o melhor ângulo. E Paul lá, mandando uma Magical Mystery Tour turbinada, usada na abertura justamente por seu alto potencial de arrebatamento. Arrebata pouco. Vem outra, Junior’s Farm. Sonzeira que fez com os Wings em 1974. Meio lado B, pouca gente conhece, a passividade merece um desconto. A próxima é All My Loving, um petardo dos Beatles disparado em 1963. Agora vai. Grande parte da plateia embarca, outra grande parte não. Quem tem uma câmera na mão o observa com cuidado e olha feio para quem dança ao lado. Se encostarem nele, seu registro treme.

As plateias dos grandes shows estão merecendo um estudo. São no fundo um monte de nós mesmos reunidos para a mais fascinante das celebrações populares, com características próprias que a diferem das duas outras monumentais reuniões de massa no país: o futebol e a religião. Ao contrário do que se passa nos estádios de futebol, em que o apogeu de uma torcida surge na miséria da outra, a comoção de um show não é erguida sobre disputas. O gol é coletivo quando Hey Jude é cantada por 80 mil vozes. E ao contrário do que se passa nos grandes cultos religiosos, em que o encontro fortalece espíritos que buscam salvação, ninguém faz pacto de posteridade com Bob Dylan ou Eric Clapton. Se quiser receber o que eles ofertam, seja bem-vindo. Serão alguns instantes de felicidade em estado bruto e cheios de demonstrações de amor incondicional antes do retorno à vida real. O fã ama seu ídolo como deveria amar todo mundo, com uma entrega eterna e inabalável que nunca pede nada em troca. Quando se une a outros que sentem o mesmo, se vê multiplicado e poderoso.

Só é chato quando filmar um show fica mais importante do que vivê-lo. E eis aqui a característica menos nobre, que também só se vê em plateias musicais. Ninguém vê um torcedor filmando um jogo de seu time do coração ou um fiel centralizando o padre em sua câmera durante a homilia pela simples razão de que, ali, nada é mais importante para eles do que aquele instante. Se é possível filmar e absorver ao mesmo tempo? Não. Impossível experimentar a plenitude de uma A Day in the Life com uma câmera nas mãos e um ímpeto narcisista na cabeça. Muita gente filma para provar aos amigos que esteve lá. Se sorveu cada segundo daquele momento fazendo com os olhos e o coração uma edição de imagens que câmera nenhuma poderia fazer, não importa. Sua câmera assistiu a um grande show.



2 de maio de 2012

Lost in translation

“A rubbish collector is driving along a street picking up the wheelie

bins and emptying them into his compactor.

He goes to one house where the bin hasn't been left out, and in the

spirit of kindness, and after having a quick look about for the bin,

he gets out of his truck goes to the front door and knocks.

There's no answer.

Being a kindly and conscientious bloke, he knocks again – much harder.

Eventually a Japanese man comes to the door.

"Harro!" says the Japanese man.

"Gidday, mate! Where's ya bin?" asks the collector.

"I bin on toiret," explains the Japanese bloke, a bit perplexed.

Realising the fellow had misunderstood him, the bin man smiles and tries again.

"No ! No ! Mate, Where's your dust bin?"

"I dust been to toiret, I toll you!'' says the Japanese man, still perplexed.

"Listen," says the collector. "You're misunderstanding me. I mean,

where's your wheelie bin?'

"OK, OK. " replies the Japanese man with a sheepish grin, and whispers

in the collector's ear. "I wheelie bin having sex wiffa wife's sista!"