13 de abril de 2012

Histórias de mãe

A vantagem de ter uma mãe de 87 anos é a quantidade de histórias que ela tem para contar. Em meu caso, junte-se a isso a bênção de ela não ver graça nenhuma em televisão.

Aspas, então, para Dona Chica Fragoso:

1. “Naquela época, eu tinha 11, 12 anos, e era muito comum as fábricas contratarem menores, tudo debaixo dos panos, claro. Nesta indústria em que seu tio trabalhava, tinha um esquema: a fábrica tinha a entrada principal, e a de trás, que dava para a rua do fundo. Quando chegava fiscal, a meninada já sabia o que fazer. Corria em debandada pra rua, pelos fundos. Horas depois voltavam, e começava tudo de novo, até a inspeção na semana seguinte”.

2. “Com 12 anos, eu trabalhava na tecelagem. Havia dois turnos, 5h às 13h e 13h às 21h. Segunda a sábado. Eu trabalhava no turno da manhã. Eu tinha um amigo que fazia o turno da tarde. No sábado, sempre no sábado, ele matava alguém da família, pra não ir trabalhar. Todo sábado morria alguém”. “Nunca se distraiu e matou a mesma pessoa duas vezes, mãe?”. “Não, ele tomava cuidado com isso”.

3. “Eu era bem pequena, e seu avô, na época, tinha um problema sério nos pés. Muita dor, uma dor terrível. Numa dessas, teve que ficar internado 29 dias num hospital. Contou ele que de noite chegava o médico (ou enfermeiro-chefe, não lembro), na enfermaria onde estavam todos – alguns moribundos, outros em situação melhorzinha. Era negrão, tinha um jeito bonachão. Ao chegar, batia palma pra chamar a atenção do povo e dizia: ‘Vamos lá, pessoal! Quem é que vai morrer esta noite? Quem vai morrer, levanta a mão!”