16 de maio de 2012

A (falta de) clareza na escrita

Jornal Brasil de Fato – Nos seus textos, é perceptível a intenção de ser entendido. Apesar de muito erudito, sua escrita é simples. Por que esse esforço de ser sempre claro?


Antonio Candido - Acho que a clareza é um respeito pelo próximo, um respeito pelo leitor. Sempre achei, eu e alguns colegas, que, quando se trata de ciências humanas, apesar de serem chamadas de ciências, são ligadas à nossa humanidade, de maneira que não deve haver jargão científico.

***

Defendo que a frase de Antonio Candido (sobretudo a primeira; o grifo é meu) seja colocada em outdoors pelas cidades, em letras garrafais. Que seja veiculada em tudo quanto é mídia, inserida em telejornais, mencionada e comentada pelos professores no início de cada curso, semestre ou ano. Que se torne uma espécie de mantra para todos que lidam com a linguagem escrita.

Isso porque a quantidade de textos obscuros que me têm caído no colo, para revisar, traduzir ou verter para o inglês, tem chegado a níveis alarmantes.

E pensar que estou me referindo, aqui, a indivíduos letrados, com pós-graduações e o escambau...

Mas se têm tal nível de formação, por que tanta obscuridade? Pra que tanto gelo seco no texto (nos shows, ok, cumprem a função de disfarçar visualmente o vazio musical)? Bem, em geral fica nítido que o sujeito não se entende bem com o próprio ego. Aí não tem remédio (Mas tende piedade de nós revisores, Senhor). Muitas vezes, porém, ele simplesmente está ignorando uma regra fundamental para qualquer um que tenha a escrita como ofício: só escreva quando tiver algo relevante a dizer (voilà, acabo de lhes apresentar uma justificativa razoável para os hiatos em meu blog). Caso contrário, aproveite esta excelente oportunidade de ficar calado.