6 de janeiro de 2011

Passione: impressões finais

A poucos dias do fim, uma espécie de balanço de minha experiência de noveleiro. Experiência que, ao que tudo indica, não terá continuidade. Pelo menos tão cedo.

Num post anterior, já revelei os motivos que me levaram a “sair do armário”. Não preciso repetir. Em grande medida, os ingredientes do teledrama de Silvio de Abreu continuam me fisgando, e acompanharei até o desfecho. Que já é conhecido de todos, aliás (o mordomo, sempre ele).

Em meio à espetacular série de furos no roteiro de Passione, dou destaque a um, em particular. Parêntese: não custa lembrar que o roteiro é escrito a oito mãos, o que me leva a perguntar: o número espantoso de furos terá a ver com o receio (da emissora? dos anunciantes?) de que o público seja incapaz de compreender uma trama mais complexa? Mas divago: falava do melhor dos furos. Danilo, ex-ciclista, entra no mundo das drogas e se vicia no crack. A certa altura, ajudado pela família, é internado numa clínica. Foge, mas decide voltar a ela, posteriormente, e de livre e espontânea vontade. Caiu-lhe a ficha: está determinado a abandonar este tipo de dependência. Recupera-se e mostra uma força de vontade invejável. Transmutou-se, como num passe de mágica, de ovelha perdida para mocinho bondoso, altruísta e com sólido caráter. Que maravilha, a natureza humana!, conclui o espectador.

E cadê o furo?, vocês me perguntam. Ora, é curiosíssimo que em nenhum momento de sua recuperação haja a mais remota menção ao envolvimento do personagem com qualquer atividade profissional. Trabalho? Nem pensar! Não se cogita sequer uma volta aos treinos, o que seria capaz de lhe ocupar a mente. Nadica. Tudo acontece motivado pela simples força de vontade, pela determinação de virar um cara "do bem". Dio Santo, em que planeta vive este personagem?

De resto, é aquilo que já conhecemos. Confesso que tive ganas de lançar, aqui, o concurso para o Troféu Goiaba. Candidatos entre os personagens, teríamos à mancheia. Alguns (Sinval, por exemplo) são praticamente hors-concours. Mas mudei de ideia, alguém certamente já deve ter feito isso, e com propriedade.

Acham que reclamo? Longe disso. Além de assistir ao desenrolar da trama com o prazer de quem joga o Jogo dos Ene Erros, tive, durante quase um ano (ou mais?), um bálsamo à noite. Sim, imagine-se fazendo um trabalho intelectual de queimar pestanas durante 6, 8 horas diárias e, à noite, ainda enfrentar um livro do estilão papo-cabeça. Claro que não dá pé. A essa altura do dia, o cérebro pede um refresco. No limite, uma leiturazinha maneira, nada densa. A depender do dia, até mesmo filmes trash chegam a ser bem-vindos.

Enfim, já tenho saudade do que ainda nem terminou. Foi bom pra mim. Mas deu. Como diria o finado (*) Babbo: Punto e basta.

(*) Atualização: Ex-finado, melhor dizendo. Babbolino teve seu dia de Lázaro. Figuriamotti! Virá acompanhado de Diana, Mirna e Noronha?! Dio Santo!