22 de novembro de 2011

Jogos de tabuleiro

Imagine um jogo que estimula a linguagem, sem a preocupação de ditar o que é certo ou errado, no uso da língua. Um jogo premiado em vários países, com regras muito simples (explicitadas em oito idiomas), e com um visual de encher os olhos. E que, além disso, lhe permite conhecer um pouco melhor os adversários – tendo grande valia, portanto, quando utilizado pelas empresas (na seleção de candidatos, por exemplo) para a identificação de características pessoais. Pois bem, este jogo existe: Dixit.
As regras. O jogo contém 84 cartas, com imagens. Oníricas. E um tabuleiro, em que cada jogador avança nas casas, com seus coelhinhos, até o número 30, à medida que ganha os pontos. Seis cartas são distribuídas para cada um. Na primeira rodada, um jogador escolhe uma de suas cartas, sem mostrá-la aos demais, e diz algo que tenha relação com esta imagem: pode ser uma única palavra, uma frase, um verso de uma canção. Os outros jogadores escolhem, dentre suas próprias cartas, uma imagem que mais se aproxime da palavra/verso/frase dita pelo primeiro. Este recolhe todas as cartas (ideal jogar com 6 pessoas; 3 é o número mínimo), as embaralha, e recoloca na mesa. Agora, é o momento das apostas: qual terá sido a carta do primeiro jogador? Todos apostam com uma ficha numerada. Pontuará, avançando com o coelhinho, aquele que adivinhou, relacionando a frase à carta certa. Porém, também pontuam (com menos pontos) aqueles em cujas imagens os demais jogadores apostaram. Se todos descobriram a carta certa (a frase/palavra foi óbvia demais), ou se ninguém descobriu (foi enigmática demais), o primeiro jogador não pontua.
O grande barato, no Dixit, é a oportunidade de, por meio da brincadeira, descobrir facetas das pessoas com quem se joga. Traços de personalidade que vêm à tona: 1) a capacidade de abstração: já que nenhuma das imagens tem correspondência direta com a realidade, elas evocam diferentes ideias em cada um. Há os que tentam, numa frase, explicar exatamente o que estão vendo. Outros “viajam” completamente. Alguns são sutis, outros mais óbvios, quase didáticos. Outros, ainda, se equilibram num invejável meio-termo; 2) a afinidade de percepção entre determinados jogadores: numa das vezes em que jogamos, o índice de acerto, no caso de dois deles, coincidiu em cinco rodadas consecutivas; 3) a sutil interferência do ego. Quando alguém escolhe um nome/título que pertence ao seu universo cultural do qual, entretanto, os demais jogadores não compartilham. Por exemplo, um músico fora do “mainstream” ou um filme antigo; 4) concisão vs. incontinência verbal. Ou seja, a maneira como cada jogador se expressa: de modo lacônico, enxuto ou soltando o verbo.
O sucesso do jogo, de origem francesa, foi tamanho que as lojas oferecem um conjunto extra de cartas. Numa caixinha vendida separadamente, há 84 imagens adicionais.
Onde encontrar o Dixit? Em Pindorama, esqueça; por aqui, paramos no Banco Imobiliário e no War. Você o acha no site da Amazon, ou então nesta loja virtual.