31 de janeiro de 2011

Uma pane

Por aqui, até pane no carro acontece em grande estilo. Cismou de enguiçar na estrada de terra, a pouquíssimos metros de uma cachoeira. A cena: em meio ao breu da madrugada, aguardando a resposta ao S.O.S., Mulher e eu ouvindo o borbulhar das águas e o coro de cigarras. Detalhe: lugar com mato abundante, ali está a sede da CUB, Central Única dos Borrachudos (seção S. Lourenço). Mas nada que uma boa besuntada de repelentes não desse jeito.

Taí, o grande barato da vida no campo: a cada semana, uma novidade. Meu blog definhar por falta de assunto? Virtualmente impossível.

27 de janeiro de 2011

De volta

O post de reestreia iria ao ar amanhã. Já que a conexão lá de casa anda meia-sola, publico hoje, da urbe. Assim já mato a saudade da casa virtual.

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Essa é pra tocar no rádio (8)
Retomo a série, que andava meio abandonada, e teve início em 16/9/2009, aqui.

Il Guarany, ópera de Antônio Carlos Gomes. Com Plácido Domingo, Verónica Villarroel, Chor und Extrachor der Oper der Stadt Bonn e a Orchester der Beethovenhalle Bonn, regidos por John Neschling. Álbum duplo, gravação de 1995.

Reconheço: não sou fã de óperas. Mescla de ignorância do assunto com o fato de não ter tido contato com o gênero, quando piá.

Fato é que este disco tem para mim um profundo valor sentimental. Idos de 1986, eu era membro do Coralusp, quando se decidiu que cantaríamos O Guarani, junto com a Sinfônica de Campinas. Uma meia dúzia de apresentações, em Campinas e em Belém-PA. Foram meses de convivência com o gênero, numa montagem que denunciava um amadorismo invejável (aliás, amador é o termo adequado: valem suas duas acepções), que era compensado por um grande empenho coletivo para que o projeto vingasse.

Lamentavelmente, para muitos O Guarani está associado única e exclusivamente à famigerada Hora do Brasil, programa do governo ainda hoje veiculado em nossas rádios. Inevitável, para alguns, a associação da ópera ao período negro da ditadura militar, já que o programa era (é) de veiculação obrigatória.

Mais um sintoma do descaso cultural a que estamos acostumados: nossa ópera mais famosa, até onde sei, só tem uma única gravação por aqui, feita em 1970, no Teatro Municipal do Rio. Nela, os chiados e as tosses da plateia dão o tom. Com muito custo, ouvi o disco duas vezes. No entanto, a gravação que agora tenho em mãos preenche nossa lacuna musical, e o faz em grande estilo. Destaque para o encarte, que traz o libreto com a letra em quatro línguas: italiano (em que foi composta), inglês, francês e alemão.

Um deleite, 25 anos depois, ouvir e cantar junto trechos do coro dos Caçadores (memória musical prodigiosa, a minha: registra para todo o sempre tudo quanto é linha melódica, de Bach ao Bonde do Tigrão). Vêm à tona inúmeros flashes da montagem que fizemos, bem como lembranças dos tempos de faculdade: tive a sorte grande de topar com Flávio Aguiar, professor de Literatura Brasileira, que nos revelou a beleza do romance de Alencar, no qual a ópera se baseia. Não fora este intermediário, teria ficado nas impressões do senso comum, do tipo “Que exagero de derramamento, esse estilo...”. Nada disso: guiado por Flávio, fizemos um delicioso mergulho no Romantismo.

Um álbum que revela o talento de nosso povo e a riqueza de nossa cultura. Ainda que, ironicamente, esteja voltado a um público que não vive nos trópicos. Mas não há de ser nada: pérolas aos poucos, como diz a canção de Wisnik.

Atualização: no dia 20/março, a gravação de que falo acima estará disponível nas bancas, pela coleção de Óperas recém-lançada pela Folha de S. Paulo. Agora é torcer para que o encarte esteja à altura do original. Muito Poliana de minha parte, essa torcida?

10 de janeiro de 2011

Um artigo

Na Revista Língua Portuguesa de janeiro (Editora Segmento), na seção Obra Aberta, um artigo meu: a análise de Tristes Trópicos, canção de Itamar Assumpção, em parceria com Ricardo Guará. Curti muitíssimo a experiência, e partilho a notícia com vocês.

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Agora, sim, a pausa é pra valer. Volto em três semanas. Até lá.

Atualização: assinantes do UOL têm acesso ao texto. Clique aqui.

7 de janeiro de 2011

Diferenciado

Podem reparar: hoje em dia nenhum produto nem ninguém é singular, particular, peculiar. Tudo e todos, trate-se de Ronaldinho Gaúcho ou de uma cafeteira elétrica, é diferenciado. Termo que tem se alastrado como fogo em mato seco.

Isso me remete a um episódio de que fui pivô, em Oxford, na moradia estudantil da universidade.Estávamos na sala: um búlgaro, uma iraniana (se a memória não me trai) e eu. O rapaz e eu levávamos um lero sobre as seleções nacionais de vôlei, quando a mocinha entrou na conversa. Fez a pergunta de praxe, de onde eu vinha. Ao ouvir “Brasil”, comentou:

Ah! That's why. You look different”.

O rapaz me olhou como quem não entendera nada, voltou-se para ela e lhe fez a pergunta essencial: “Different from what?!”

6 de janeiro de 2011

Passione: impressões finais

A poucos dias do fim, uma espécie de balanço de minha experiência de noveleiro. Experiência que, ao que tudo indica, não terá continuidade. Pelo menos tão cedo.

Num post anterior, já revelei os motivos que me levaram a “sair do armário”. Não preciso repetir. Em grande medida, os ingredientes do teledrama de Silvio de Abreu continuam me fisgando, e acompanharei até o desfecho. Que já é conhecido de todos, aliás (o mordomo, sempre ele).

Em meio à espetacular série de furos no roteiro de Passione, dou destaque a um, em particular. Parêntese: não custa lembrar que o roteiro é escrito a oito mãos, o que me leva a perguntar: o número espantoso de furos terá a ver com o receio (da emissora? dos anunciantes?) de que o público seja incapaz de compreender uma trama mais complexa? Mas divago: falava do melhor dos furos. Danilo, ex-ciclista, entra no mundo das drogas e se vicia no crack. A certa altura, ajudado pela família, é internado numa clínica. Foge, mas decide voltar a ela, posteriormente, e de livre e espontânea vontade. Caiu-lhe a ficha: está determinado a abandonar este tipo de dependência. Recupera-se e mostra uma força de vontade invejável. Transmutou-se, como num passe de mágica, de ovelha perdida para mocinho bondoso, altruísta e com sólido caráter. Que maravilha, a natureza humana!, conclui o espectador.

E cadê o furo?, vocês me perguntam. Ora, é curiosíssimo que em nenhum momento de sua recuperação haja a mais remota menção ao envolvimento do personagem com qualquer atividade profissional. Trabalho? Nem pensar! Não se cogita sequer uma volta aos treinos, o que seria capaz de lhe ocupar a mente. Nadica. Tudo acontece motivado pela simples força de vontade, pela determinação de virar um cara "do bem". Dio Santo, em que planeta vive este personagem?

De resto, é aquilo que já conhecemos. Confesso que tive ganas de lançar, aqui, o concurso para o Troféu Goiaba. Candidatos entre os personagens, teríamos à mancheia. Alguns (Sinval, por exemplo) são praticamente hors-concours. Mas mudei de ideia, alguém certamente já deve ter feito isso, e com propriedade.

Acham que reclamo? Longe disso. Além de assistir ao desenrolar da trama com o prazer de quem joga o Jogo dos Ene Erros, tive, durante quase um ano (ou mais?), um bálsamo à noite. Sim, imagine-se fazendo um trabalho intelectual de queimar pestanas durante 6, 8 horas diárias e, à noite, ainda enfrentar um livro do estilão papo-cabeça. Claro que não dá pé. A essa altura do dia, o cérebro pede um refresco. No limite, uma leiturazinha maneira, nada densa. A depender do dia, até mesmo filmes trash chegam a ser bem-vindos.

Enfim, já tenho saudade do que ainda nem terminou. Foi bom pra mim. Mas deu. Como diria o finado (*) Babbo: Punto e basta.

(*) Atualização: Ex-finado, melhor dizendo. Babbolino teve seu dia de Lázaro. Figuriamotti! Virá acompanhado de Diana, Mirna e Noronha?! Dio Santo!

4 de janeiro de 2011

Miguel Nicolelis, cronista

Conhecia este nome de outros carnavais. Um dos mais importantes neurocirurgiões de nosso tempo e um dos acadêmicos mais comprometidos com a expansão da ciência em seu país (sugiro buscar informações sobre o Instituto de Neurociências de Natal-RN,do qual é diretor), embora pudesse, com o reconhecimento e trânsito internacionais de que desfruta, estabelecer-se e viver confortavelmente nos EUA ou em algum país europeu.

Só não sabia de uma faceta sua, a de cronista. Na edição de dezembro da revista Brasileiros, um texto fascinante (Brava gente brasileira - O dia em que Canhoto da Paraíba colocou Andrés Segovia no banco), em que homenageia a música e a cultura brasileiras. Comovido, pisei mais leve pelas ruas de Sampa, depois da leitura. Confiram lá.