15 de agosto de 2011

Show involuntário

“As mãos de um violonista são totalmente diferentes uma das outras. A esquerda tem um trabalho árduo, apertando e deslizando sobre as cordas. A direita, tarefas quase microscópicas, criando efeitos miniaturizados que dependem muito das unhas. Isto faz com que a esquerda tenha um aspecto mais másculo e a direita uma aparência feminina, até mesmo por causa das unhas.
(...)
Um dia, no metrô de Paris, apinhado, discutíamos [Oscar Cárceres e eu] os formatos de nossas unhas. As minhas, curtas e triangulares; as dele, enormes, longas e curvas. Comparávamos as mãos e, para isso, éramos obrigados a empalmar a mão um do outro. De repente, percebo. Estávamos dando um ‘show’ completo. Dois marmanjos comparando suas mãos e, ainda por cima, num dialeto incompreensível para aqueles franceses voltando do trabalho.”
Da crônica Ode às mãos, em Mentiras... ou não? – Uma quase autobiografia, de Turibio Santos (Jorge Zahar Editor).