13 de dezembro de 2010

O ping-pong e a meditação



A palavra “meditação” remete a uma necessária posição de lótus, num retiro espiritual, em completo isolamento. Bobagem: ela pode acontecer em qualquer canto.

Descobri um ótimo espaço para meditar. Cá na varanda de casa.

Jogava ping-pong com um amigo. De início, aquele jogo de comadres, só pra tirar a ferrugem. Minutos depois, o desafio: “Uma partida, a 21?”.

Agora, sim. Bolinha numa velocidade cada vez maior. Tensão e concentração máximas. Bastou ter perdido alguns pontos – e ganhado outros – que logo pintou o insight, uma mini-epifania.

Percebi que quando a atenção é total, e a mente não tem chance de intervir, a probabilidade de conquistar o ponto aumenta de modo vertiginoso, cresce o espaço para a criatividade nas jogadas. O contrário também é verdadeiro: basta o pensamento aparecer, o foco é desviado, e babau: bolinha pra fora, bolinha na rede, o jogo fica mais previsível.

Corre o jogo, e mente nunca fecha a matraca: “Legal, hoje estou bem”, “Putz, preciso tirar essa diferença de pontos”. “Que bela jogada, essa”. “Ops, saque ruim”. O julgamento e as comparações vão surgindo, é o roteiro conhecido.

Basta, porém, tirar dela a oportunidade de tagarelar, para que a partida se transforme no mais belo momento de meditação. Atenção completa. Tão logo o adversário embarca na viagem, ambos passam a rebater com facilidade as cortadas mais violentas. Sem contar a verdadeira inversão de papéis: o oponente se transforma em aliado, já que o foco dos dois é um só, o jogo. A mente é retirada de cena e, com ela, o ego. Sem a interferência do ego, a entrega mútua é completa. Surge espaço para a criação total.

Encontro ecos na frase de um livro: “In order to create, you have to be out of your mind. Literally”. Na passagem para o português, perde-se o essencial: “Para criar, você tem que estar fora de sua mente. Literalmente”. Eis a tradução ao pé da letra. Porém, “out of your mind” tem o sentido de “louco”.

As melhores sacadas – e também os melhores saques – e insights só acontecem quando a mente está quieta. Comum, a situação de ter queimado os miolos com algum problema, e tido a sensação de que nada adiantou: criatividade zero. Silenciada a mente, a solução aparece, cristalina.

Dificuldade de manter o foco? Nós a desatar num trabalho de criação? Vamos lá, qual destas raquetes você prefere?