7 de dezembro de 2010

Sesc Belenzinho

Nasci e cresci na Água Rasa, muito perto da região onde está o novo Sesc.

Em meus tempos de piá, os filmes eram assistidos nos cinemas de bairro. É nítida, a memória do encantamento com as idas ao Cine Vitória (rebatizado depois: Fontana), na Av. Álvaro Ramos, para ver fitas como Ao Mestre com Carinho. Perto dali, na Moóca, o Cine Ouro Verde, que o mano Marcos e eu frequentávamos de quando em quando. No Tatuapé, Rua Emília Marengo, uma outra sala (o nome me escapa; taí, telegrama do Alzheimer), onde assisti a inúmeros filmes de Mazzaropi.

Criança, e mesmo adolescente, batíamos regularmente o ponto no CERET, também no Tatuapé. Clube mantido pelo governo estadual (estará ainda ativo?).

Pouco a pouco, foram minguando as opções culturais e de lazer desta região da cidade. Lembro da tristeza que me deu, ao acompanhar a construção do primeiro grande shopping da zona leste, o Tatuapé. Olhava para o imenso canteiro de obras e pensava: Meu Deus, outro shopping, por que não fazem um centro cultural, um parque nessa região tão carente de verde, por que a prefeitura não coloca freios nessa especulação insana (a cidade ganhará mais três deles, em 2011)?

O lazer e a cultura foram desaparecendo da zona leste. Cinemas foram confinados aos shoppings (onde o olhar desconfiado dos seguranças é o suficiente para que alguns se sintam excluídos). Que outras opções nos restaram, ali? Está certo, temos ainda o Teatro Artur Azevedo, na Moóca, e o Martins Pena, na Penha, ambos da prefeitura. Mas... a quantas andará a programação nestes locais?

Quando soube que o Sesc comprara o imenso terreno na Av. Álvaro Ramos, ex-propriedade de fábrica têxtil Santista, vibrei. Foram cinco anos de obras. Fui conferir o resultado, no dia da inauguração.

Não pretendia dar um tom piegas a este texto, mas me comovi, e várias vezes, ao perambular na nova unidade do Sesc, no sábado passado.

Saltaram aos olhos a generosidade e a enorme diversidade da programação ali oferecida neste fim de semana. Em dois dias, a zona leste deve ter tido mais opções culturais do que em 30 anos (descontemos, obviamente, o que já ocorre há alguns anos no Sesc Itaquera). Se pensam que exagero, perguntem a algum morador da região.

O melhor de tudo é constatar que este espaço fabuloso, com uma infraestrutura invejável, não faz a menor distinção entre os ricos e os sem-tudo. O Sesc cumpre um papel que, em tese, caberia ao Estado, num país em que as opções culturais privilegiam quem tem grana.

Numa cidade em que as pessoas estão acostumadas a se agrupar em “guetos”, onde nosso espírito “cordial” acoberta comportamentos excludentes, o preconceito, e até mesmo um bem-disfarçado racismo, o surgimento de espaços como o Sesc deve ser acolhido com festa.