21 de setembro de 2011

Em Liliput

Mãe internada, passo algumas horas no quarto do hospital, como acompanhante. Volta e meia tiram o paciente do sossego. Uma injeção aqui, um exame ali, e assim vai. Noto que, independentemente do sexo, há entre os enfermeiros um modo comum de tratamento dos idosos.
– Vamos lá? Ok, devagar, agora. Levanta a perninha.
– Me dá o bracinho. Isso, assim mesmo.
– Não deu certo. Vamos ter que pegar outra veinha. (apurei o ouvido: isso mesmo, não era veiazinha, ou véinha).
E dá-lhe agulhinha, camisolinha e xixizinho.
Me imaginei paciente com 85 anos de idade, soterrado por tantos -inhos.
Corta pr’um flashback. Em A bolsa amarela, de Lygia Bojunga, a protagonista Raquel (pré-adolescente, pelo que lembro), a certa altura, desabafa:
– Por que é que todo mundo fala comigo desse jeito, no diminutivo? Será que acham que não entendo, se falarem de maneira normal?
Sei não, mas desconfio que ainda exista uma porção de velhos (vamos lá, direto ao ponto, “pessoas da Terceira/ Melhor Idade” é de lascar) com o espírito de Raquel. Ou será que Liliput é aqui?