30 de março de 2011

Brifando e parcando

“O papo ali [na agência de publicidade] era foco no cliente, agregar valor, sinergia, comunicação integrada, upscaling, benchmarking, opportunity scanning e o caralhaquatring”. Pornopopéia, de Reinaldo Moraes (Objetiva).
Lembrei do trecho acima, ao deparar com estas linhas na matéria do jornal:
“... Luciana [perfumista profissional] imagina como a brifariam, por exemplo, se o cliente fosse o Teatro Municipal”. Linhas antes: “Quando a Luciana recebe o ‘briefing’ (resumo) do que o cliente quer e me diz...”.
Briefing. Palavra que volta e meia aparece, no texto que estou traduzindo. Definições: “anotação prévia para elaboração de matéria geralmente jornalística ou publicitária”. Ou “explicação resumida, relatório”. Linguazinha sintética, esta, sô.
Eis que, em meio à leitura descompromissada de domingo, pipoca um brifar. Espanto típico de leitor desatualizado. Pode não constar no Aurélio, mas o (excelente) Dicionário de usos do Português do Brasil, de F. Borba, já traz o verbete.
Sem contar que (descoberta tardia) uma pá de gente já anda brifando por aí. O próprio personagem do livro de Reinaldão é um deles. Fosse professor de Português, incluiria, sem pestanejar, na lista dos verbos para prática de conjugação. Eu brifo, nós brifamos, vós brifais. No subjuntivo: que nós brifemos. E por aí iria. Outros do mesmo rol: malufar, collorir.
A mente dá outro rodopio, e vai a Oxford. Os brasileiros ali residentes usavam, com naturalidade, o verbo parcar, em vez de estacionar. “Tu parcou o carro onde?”.
Os puristas vão espernear em vão: a língua é essa brincadeira aí.