19 de janeiro de 2012

Uma entrevista com Drummond

Entrevista com Carlos Drummond de Andrade, por Nanete Neves, em 1977. O poeta tinha 75 anos. Retirada daqui.
1.  O que a vida lhe ensinou até agora?
Creio que a vida terá me ensinado o que normalmente ensina a qualquer um: a abrir mão de determinadas ilusões, a olhar com maior indulgência as pessoas, a buscar compreender melhor os fatos. Um misto de indulgência e desencanto. Acho que consegui mais ou menos este resultado, sem renunciar a alguns valores básicos: o respeito à personalidade humana e o amor à liberdade. Não estou me gabando disto. Estou rendendo graças à vida, que não me levou a abrir mão desses valores.

2. Qual a fórmula para se viver aparentemente afastado dos outros, e ao mesmo tempo mostrar no que escreve uma participação e observação tão ativas?
Não me considero afastado dos outros, mesmo aparentemente. Saio invariavelmente à rua todos os dias, sou encontrável no ônibus, na livraria, no café, no papo de rua, na Biblioteca Nacional e pelo telefone. Apenas não apareço em festas e reuniões, que me atordoam um pouco. E se não recebo muito em casa, é porque ela é também meu local de trabalho. E me comunico com muitos amigos, leitores e estudantes, por meio de cartas. Gosto de responder cartas, acho isso uma obrigação natural. Além disso, mantenho há 23 anos uma coluna de jornal, o que é uma forma de conversar com o maior número de pessoas ao mesmo tempo. Pessoas que tanto aprovam como desaprovam o que lhes digo, e que costumam exprimir suas reações. Acontece que muita gente pensa que devemos estar sempre de plantão para atendê-las. Infelizmente a vida não é desta opinião, e limita com avareza as nossas horas.

3.  O poeta Drummond acredita que os jovens estejam se afastando da literatura?
Não tenho elementos para afirmar ou negar que os jovens estejam se afastando da literatura. Se eles lêem pouco, pelo menos vivem muito a vida intensa de hoje. E o que está mais ao alcance deles é a imagem e o som, não a letra impressa. Há um problema de ensino, um problema de educação, um problema de economia, um problema de ordem social, tantos problemas em torno da questão jovem e leitura. Eu penso que nós não estamos sabendo o que fazer diante da juventude, e ela muito menos sabe o que vai fazer. O caso da leitura é só um detalhe da imensa questão geral. E se os mais velhos reciclassem a sua sabedoria?

4.  Qual a sua mensagem aos jovens de sua nação?
Não tenho mensagem alguma para os moços. Não sou político nem educador nem reformador. Eu gostaria de ser moço também, mas não gostaria de receber mensagens dos velhos.
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