16 de junho de 2011

Dormindo macacos

Motivo clássico de chacota é a tradução de filmes, para cinema ou televisão. Atire o primeiro dicionário quem não contou pra meio mundo o absurdo que leu na legenda, na noite anterior. O índice de deslizes destes profissionais, no entanto, tem sido cada vez menor. Sobretudo no cinema. Em DVD, volta e meia aparece um “eventualmente” completamente deslocado, mas em geral, o nível parece bom. Ok, descontem o fato de que raramente alugo DVDs.
Já na tevê, embora haja incontáveis exemplos de ótimas traduções, em muitos casos adentra-se a terra-de-ninguém. Zapeando dia desses, naqueles momentos em que se alimenta a vã esperança de encontrar algo que preste, topei com um programa chamado Dormindo macacos. Segui adiante. Mas o espectro dos símios continuava a me atormentar. Como assim? Não seria Ninando macacos? Ou Dormindo com Macacos (zoofilia, talvez, vá saber)?  Foi quando tive o clique. Sleeping Monkeys, é claro.
Dia seguinte, cena de filme também na TV. O cara chega no bar, e pede um uísque duplo nas rocadas. Decerto o personagem queria a bebida com gelo, sem água. Sim, você já sacou a expressão dita no original. Guglei, para saber se a expressão é comum em Portugal ou noutras terras. Nenhuma ocorrência de uso.
Na época em que eu lecionava português, colecionava deslizes de revisão dos jornais, aproveitando-os em sala de aula. Exemplos, havia à mancheia. Para além do inevitável riso, o professor de inglês pode muito bem se valer do farto material que a telinha nos oferece de bandeja.  

Lado B
Como contraponto, segue uma declaração de Carolina Alfaro, tradutora e professora de tradução de legendagem, em entrevista a Petê Rissatti.

“A qualidade da legendagem no Brasil é excelente. Os padrões de qualidade estão cada vez mais rigorosos e os clientes são cada vez mais exigentes ao selecionarem seus profissionais. O que não é muito óbvio, sobretudo no caso de DVDs e de canais de TV a cabo, é saber quais traduções são feitas no Brasil e quais vêm do exterior. Os canais Sony, Warner e parte da programação da Fox, por exemplo, são traduzidos fora do Brasil e apresentam graves problemas linguísticos e técnicos. Basta compará-los a canais como Multishow, GNT ou os Telecines para notar a diferença”.