27 de junho de 2011

A era da ilusão

Um aspecto que me estimula muito, no trabalho de tradução, é a diversidade dos temas. Psicologia, educação, música popular, história, sociologia, auto-ajuda, proliferação nuclear, eis alguns assuntos pelos quais passeei. Descobrir o tema do livro seguinte apenas na véspera só faz realçar o gosto da descoberta.

Acaba de ser lançado o penúltimo que traduzi (em parceria com Elvira Serapicos): A era da ilusão, de Mohamed ElBaradei (Ed. Leya Brasil). Entre 1997 e 2009, ElBaradei foi o Diretor-Geral da Agência Internacional de Energia Atômica, órgão da ONU, e juntamente com a AIEA, recebeu o Nobel da Paz em 2005 por seu trabalho.

Narra sua experiência nos bastidores da política internacional, em países como o Iraque, o Irã, Paquistão e Coreia do Sul. O testemunho do autor contém uma série de elementos históricos que ajudam a desconstruir por completo a farsa montada pelo governo Bush para justificar a Guerra no Iraque. Revela com detalhes a prática deliberada de dissimulação, de fraude, de ocultamento da parte dos governos destes países, no que diz respeito à política de proliferação nuclear (nesse sentido, o título da edição portuguesa do livro, Era da Mentira, tradução de Age of Deception, é igualmente oportuno). Os obstáculos com que depara, em seu trabalho em prol da não-proliferação nuclear, deixam claro os inúmeros interesses dos Estados, mas sobretudo o flagrante desequilíbrio de forças entre os países detentores de energia e armas nucleares e os que não as possuem. Em meio aos interesses conflitantes, a tentativa de conciliação e de isenção da parte da Agência, que embora seja um órgão da ONU, muitas vezes se vê limitada ou mesmo impotente diante do poder dos governos.

Um livro que, além do desafio inerente – um enorme estímulo para qualquer trabalho de (re)criação – trouxe consigo uma considerável dose de responsabilidade: me/nos transformar em veículo de uma voz de grande importância no atual cenário político mundial.