20 de junho de 2011

Interatividade

Em texto recente, Braulio Tavares compara a internet àquele microfone que é colocado à disposição da plateia, para perguntas em palestras e debates. Ali, tendo agarrado o microfone, o cidadão o não larga mais, contará uma história bem triste e mais metade de sua vida antes de fazer a pergunta, nem aí se os demais estão lhe dando ouvidos. Assim é a internet, diz Braulio, bilhões falando, tendo ou não audiência. Dentre eles, claro, o blogueiro que batuca estas linhas.

É a tal interatividade, que veio para ficar. Em telejornal ou talk show, programa sobre música, esporte, política ou culinária, não importa: o ouvinte/espectador terá voz e participação – isso quando não rola no teatro, onde você, quietinho no seu canto, é chamado ao palco para contracenar, sapatear etc. E dá-lhe “Sou fã número 1 do seu programa”, “Onde é que vamos parar?”, “É uma vergonha, esse país”, e platitudes do gênero.

O último bastião de resistência talvez seja o cinema. Tirante uma ou outra exceção (o assento atrás do seu é sempre um lugar de potencial perigo), ainda é possível assistir um filme de cabo a rabo sem saber a opinião do público. Mas é prudente não fazer alarde: não demora, um gênio da raça institui o intervalo no meio da sessão, com direito a debate – com o diretor, roteirista, montador, o diabo – e microfone para as intervenções da plateia. No que será imediatamente imitado. Somos um povo novidadeiro, afinal.

Outro dia, carreta tombada na rodovia fez o tráfego parar completamente. Cinco segundos após o motorista do ônibus desligar o motor, dezenas de mãos se agarraram aos celulares: “Benhê, tá tudo parado!”, “Amor, vou demorar, sem previsão” e por aí vai. Quem não tinha celular soltava uma lamúria, daquelas que sempre encontram eco no passageiro ao lado. Todos interagindo.

Carência? Talvez. Ou quiçá uma incapacidade crônica: fechar a matraca.