8 de fevereiro de 2011

A língua nas escolas. Ou: "Eu odeio Português!"

1. “Vocês devem ter lido que minhas empresas demitiram 1.900 funcionários no último mês. São os reflexos imediatos da crise. Acabou a fantasia. Há um mundo bem pior, todo feito pra você”. (Blog do Walt Disney).
2. “Gosto de roçar minha língua na língua de Caetano Veloso. Mas sou espada”. (Blog do Camões).
3. “O Aldo Rebelo sugeriu que eu fizesse micropostagens numa rede de relacionamentos chamada Gorjear. Mas eu não entendi bem o que ele quis dizer com isso”. (Blog do Aurélio).
4. "Sobre o blog. Serve para reunir o que estava disperso e dar um corpo
às minhas ideias”. (Blog do Tiradentes).
5. “Uma vida não suscetível de exame não vale a pena ser vivida.
Cunhei essa frase para um laboratório de análise. Mas como socrático não pude cobrar”. (Blog do Sócrates).
6. “Comecei este diário virtual para registrar memórias involuntárias, provocadas pela ingestão de um ovo de padaria”. (Blog do Proust).

A coletânea de frases acima é retirada do site Blogs do Além (ver link ao lado). Me ocorreu fazer esta mini-compilação ao deparar com alguns exercícios da tarefa de casa de meu filhote, para suas aulas de Língua Portuguesa. Impressão de ter sido catapultado para meus bancos escolares de 30 anos atrás: praticamente não há diferença entre o que fazíamos na época, e hoje. Até mesmo o pronome “vós” continua sendo usado. Em frases descontextualizadas, claro.

O material acima serve de contraponto ao conteúdo do livro didático de nossos dias. Seja na mídia impressa ou na internet, há um manancial de textos à disposição dos professores, e que poderiam ser trabalhados em sala. Expressões de duplo sentido, referências literárias, históricas, ao cinema e ao nosso cancioneiro, a polissemia das palavras, a intertextualidade (comunicação entre diferentes textos), os neologismos: está tudo ali, e explorado por meio do humor. Melhor ainda: tudo gratuito, a poucos cliques do internauta.

Não faz muito tempo, eu dava aulas de reforço de português a um aluno quando ele me pediu que fizéssemos a revisão do conteúdo da prova em que não tinha se saído bem. Uma questão exigia o conhecimento da função sintática das palavras em itálico:
1. O candidato que tinha 35 anos foi eleito.
2. O candidato, que tinha 35 anos, foi eleito.

Ele não tinha a mais remota ideia de estar diante de um adjunto no primeiro caso; de um aposto, no segundo. Mas tinha uma habilidade que falta a muitos: a capacidade de ler. Espremeu a letra no espaço reservado para a resolução, explicando com precisão a diferença de sentido entre as frases. A atitude da mestra, qual foi? Considerou errada, a resposta!

E assim continua a caça aos Objetos Direto e Indireto, às Orações Transitivas Diretas e quejandos. Afinal, mais dia menos dia, a atendente da padaria pode perguntar ao seu filho do Ensino Médio/Fundamental se o “Tipo A” do litro de leite que ele está comprando é adjunto adnominal ou coisa que o valha. É preciso estar atento e forte.