9 de maio de 2011

Benito de Paula

Ao deparar com esse nome, o que lhe vem à mente? (Se não viveu os anos 1970, provavelmente nada).

Foi a pergunta que fiz a pessoas próximas, e as reações foram surpreendentemente positivas.

Fato é que Benito era (ou ainda é) considerado um dos grandes expoentes da música cafona. Seu visual só fazia piorar o estigma.

Recentemente, ele foi entrevistado no Metrópolis. Na revista Fórum deste mês ele também é tema de um belíssimo artigo, de Pedro Alexandre Sanches.

Benito é de uma época em que meus filtros musicais ainda não estavam em atividade. Época da inocência. A música me entrava pelos poros; portanto, eu mal sabia julgar, “bom”, “ruim”, “brega” etc. Posso ainda cantarolar várias de suas composições, que grudaram no ouvido.

Entre outras revelações do artigo, Benito se defende do rótulo de “adesista” ao regime militar. Pois, em plena ditadura, compôs: “Tudo está no seu lugar, graças a Deus”. Explica, na entrevista, a gênese do verso. Mas imaginem dizer uma coisa destas numa época de repressão braba, em que o vilão era tão bem definido. Época em que ouvir o Rei, ou canções não-engajadas, era sinal de alienação.

A origem de seu nome de batismo (Uday Vellozo), a menção de seu nome numa canção-sátira de Rita Lee, sua relação com grandes nomes da MPB, sua postura modesta, quase autodepreciativa, e muito mais, está tudo lá. Um artigo a ser guardado.

Em tempo: adoro quando querelas no universo musical se transformam em canção (Caetano vs. Lobão etc). Trago, então, um episódio que não está no artigo. Reza a lenda que “Argumento”, composição de Paulinho da Viola, é um recado direto a Benito: “Tá legal, eu aceito o argumento / mas não me altere o samba tanto assim/ Olha que a rapaziada está sentindo a falta de um cavaco, de um pandeiro ou de um tamborim”.

Lenda? Bem, si non è vero, è bene trovato...