11 de maio de 2011

Eça

“(…) Na cidade findou a sua liberdade moral; cada manhã ela lhe impõe uma necessidade, e cada necessidade o arremessa para uma dependência; pobre e subalterno, a sua vida é um constante solicitar, adular, vergar, rastejar, aturar (...) a sociedade logo o enreda em tradições, preceitos, etiquetas, cerimônias, praxes, ritos, serviços mais disciplinares do que os de um cárcere ou de um quartel.
(...)
Mas o que a cidade mais deteriora no homem é a inteligência, ou porque lha arregimenta dentro da banalidade, ou lha empurra para a extravagância. Nesta densa e pairante camada de idéias e fórmulas que constitui a atmosfera mental das cidades, o homem que a respira, nela envolto, só pensa todos os pensamentos já pensados, só exprime todas as expressões já exprimidas; ou então, para se destacar na pardacenta e chata rotina (...), inventa num gemente esforço, inchando o crânio, uma novidade disforme que espante e que detenha a multidão como um monstrengo numa feira.”

A cidade e as serras, Eça de Queirós.

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Primeira reação: por que demorei tantos anos pra descobrir este livro? Seguida da resposta, tão natural quanto óbvia: os encontros – com livros e pessoas – acontecem no momento apropriado. Sempre.