6 de abril de 2011

O passado perfeito

Tem um quê de acaciano, este post, mas vá lá. Para um tempo verbal do passado do inglês, nossa língua apresenta três possibilidades. I had done pode virar eu tinha feito, eu havia feito ou eu fizera. É o três-em-um linguístico.
Taí, a diversão do tradutor. Atentar para a variação. A depender do contexto, caberá mui bem, a terceira destas opções. Embora já extinta da língua oral, é perfeitamente adequada à escrita, e ao registro formal. Eu tinha + particípio, por sua vez, transmite naturalidade, mas seu uso excessivo corre o risco de encher o saco do leitor.
Sem falar dos vários casos em que o “passado perfeito” deles vira passado simples, no vernáculo. Ilustrando: “When he arrived, I had already been here”. Se, ao traduzir, você tascar um “eu já estivera”, dança.
Tropecei inúmeras vezes neste tempo verbal, na mais recente tradução. Um bom motivo para manter afiados, o radar e o ouvido (impiedoso, diante de certas palavras e combinações).
Particularmente saborosa é a sua nomenclatura. “Passado perfeito”. Parece Proust – só falta a madeleine. O português não deixa por menos, e beira o surreal: “Pretérito mais que perfeito”. Transcendeu o próprio Criador. É o passado com um plus a mais, como diria a moçada da publicidade.